MORTE NA ENTREGA

MORTE NA ENTREGA

(Theo Padilha)

Um calor insuportável fustigava o norte pioneiro naquele ano. 1980, mais ou menos. A corrida pelo ouro tirava o sono dos nossos patrões. Os nossos pequenos salários não nos alegravam em nada. Vivíamos uma época da qual só víamos os ricos ficarem mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Eu trabalhava na matriz de uma revenda de cerveja que mantinha sete filiais no norte velho paranaense. Naquela segunda–feira a filial de Siqueira Campos havia entregado os pedidos do Barro Preto, um patrimônio próximo à cidade de Quatiguá.

Jorge, o motorista, muito bonzinho, trabalhador honesto, tinha ido sozinho levar as mercadorias para os pontos de venda. Assim que ele saiu de sua cidade já começou uma chuva de verão. Mas, sabendo que a estrada era muito ruim; sabendo que os botecos não podiam ficar sem a cachaça e a cerveja Brahma - e a chuva aumenta as vendas; sabendo que as chuvas de verão são passageiras; assim mesmo teve que ir. E naquele dia bateu muita água. Todos os rios se encheram rapidamente.

O telefone da revenda tocou. Era o gerente da filial de Siqueira Campos avisando que alguém passou e lhe disse que havia ocorrido um acidente na ponte entre Barro Preto e Quatiguá. O nosso patrão muito preocupado disse para mim e um motorista que deveríamos seguir para aquele local ver o que aconteceu.

Fomos para lá. Eu e o Márcio Massanares. Saímos de Joaquim Távora, cerca de 4 horas da tarde. A chuva não parava. Passamos em Quatiguá para comer alguma coisa e levar a nossa janta. Descemos a serra e fomos até o local. A chuva não deixava nada enxergar na frente. Lá chegando, vimos um punhado de curiosos olhando a pick-up da Brahma caída no rio. Naquele punhado de gente havia um cidadão do qual devemos muita obrigação. Era um tal João Louco, vereador e mecânico em Quatiguá. Descemos próximo à margem do rio, que bufava cheio, e avistamos o motorista morto dentro da Toyota. Esse mecânico logo pegou uma corda e laçou a viatura. Assim mesmo a água a arrastou para debaixo da ponte. Jorge estava perfeito. Apenas pálido. Com muito custo ele foi retirado das águas. A Toyota estava sem nenhum engradado, eles rodaram todos. Foram encontradas apenas as notas e o dinheiro no porta-luvas. Foi muito triste. Já estava escurecendo quando terminamos o serviço.

Quando fomos saber as causas do acidente é que descobrimos que Jorge havia dado carona para um casal e uma menina. Estavam em quatro na cabine. E o motorista se atrapalhou com os arbustos que cobriam a cabeceira da ponte, além dos caroneiros. Dias depois, o homem que havia pedido carona estava na matriz, com uns papéis na mão, pedindo que a empresa ressarcisse seus prejuízos médicos. Nosso patrão quase bateu no indivíduo. E a comunidade Brahma nunca esqueceu esse acidente.

Copyright by Theo Padilha©, Joaquim Távora, 8 de setembro de 2011.

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 08/09/2011
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