Na aula de história
Entrei na sala para minha aula de história. Coloquei o material sobre a mesa e com ele uma revista Super Interessante que trazia uma reportagem especial sobre o nazismo. Eu a havia apanhado para preparar algumas aulas sobre a Segunda Guerra.
Logo a minha frente, na primeira carteira da fila sentava-se o João Antonio que ao ver a revista interessou-se imediatamente e perguntou se poderia ler a reportagem. Eu cedi de pronto pois, não era comum naquele aluno o interesse pela leitura. Comecei, então, a distribuir um exercício para a turma. Enquanto isso, quase em êxtase, o João devorava o texto da reportagem. Fiquei admirado com aquilo e passei a observar a cena em silêncio. Os olhos do garoto brilhavam enquanto liam avidamente a matéria.
Aproximei-me e perguntei – porque você se interessou tanto por essa reportagem? – Porque gosto do Hitler, foi a resposta. -Por que você gosta dele? -Porque acho um cara legal. –Você sabe que ele autorizou a morte de milhões de pessoas inocentes inclusive crianças, idosos e, até, deficientes físicos? –É sei. Mas, é por isso que eu gosto dele porque eu também não gosto de judeu. -O que você sabe sobre os judeus? Nesse ponto o aluno desconversou e eu mudei a direção das perguntas: -Imagine que algumas daquelas pessoas fossem seus parentes, pai, mãe, irmãos.... O aluno respondeu com um frio dar de ombros. –E se fosse você o alvo das ações de Hitler? O menino não se alterou repetindo o mesmo gesto de indiferença.
Perturbado com a frieza e apatia com que o menino reagia a meus questionamentos fiquei a pensar que fatores poderiam levar uma criança de doze anos a adotar Hitler como seu ídolo? E mais, a admirá-lo exatamente pelas maldades que propagou. Surpreso com aquela conversa questionei-me e cobrei de mim mesmo uma atitude afinal tratava-se de meu aluno. Talvez aconselhá-lo, tentar desestimular aquela admiração sinistra. No entanto, sei que palavras exortativas não têm tanta eficácia quanto se imagina e se espera. A esperança pode estar além das palavras.