A MUDANÇA
Acordei com alguém me chamando. Saí para atender. Era o carteiro. Achei muito estranho. Fiquei observando o rapaz:
_ Moço, tudo bem?
_ Tudo bem. Respondi ainda pensativo.
Recebi a correspondência e o sujeito foi embora. Era incrível, como se parecia comigo. Pelo jeito ele nem tinha notado.
Ainda com aquele episódio na cabeça tomei um banho e saí.
Na rua percebi que todas as pessoas tinham a minha aparência. Eu os observava um a um. Eles por sua vez pareciam indiferentes, como se tudo estivesse na mais perfeita normalidade. Prosseguiam alheios ao que estava acontecendo.
Homens, mulheres, crianças, todos com a mesma imagem e semelhança. Uma tristeza imensa invadiu meu ser. Um marasmo penetrou-me a alma.
Instantes depois o tédio tomava conta de mim. Por onde quer que olhasse, em todas as pessoas via a mim mesmo.
Até chegar em casa todas as pessoas pelas quais passei eram parecidas comigo. Havia algo estranho.
Entrei em casa e liguei a televisão, ali também todos eram como eu.
Cansado de tanta mesmice deitei e adormeci.
Quando o dia amanheceu aquilo tudo ainda não havia saído da minha lembrança.
Cheguei à varanda, observei as pessoas na rua. De repente veio a euforia. Notei que todas eram iguais, mas vi que nenhuma se parecia comigo.
Uma coisa havia mudado, pensei. Pelo menos agora eu estava solitário, mas me sentia diferente. Eles não mais se pareciam comigo. Quem sabe seria essa a chance para que eu viesse a ser superior.
Ao retornar à sala, passando diante do espelho tomei um susto. Observei atentamente por um longo tempo. Não acreditei no que vi. Nenhum deles tinha mais a minha aparência...
Agora, eu sim, é que me parecia com todos eles.
Saulo Campos
Itabira MG