Eu quero um domingo sem FAUSTÃO.
Por Carlos Sena




Sinto falta de um sino tocando no campanário da igreja, nos chamando pra missa. O padre no altar, o coroinha contrito a tilintar a campanhinha. O padre no altar, o turíbulo disseminando incenso aureolando o ostensório, o coro em cântico dizendo amém. Eu quero um domingo sem FAUSTÃO. Quero ir pra igreja andando a pé para poder cumprimentar os conhecidos – quais conhecidos? Aqui na capital, as pessoas não se falam, nem ficam nas calçadas como nos tempos idos no interior da minha terra. Mas que sinos? Aqui na capital a gente não ouve soarem. Mesmo assim eu quero ir à igreja, porque domingo é dia de missa, tem cara de missa. Eu quero um domingo sem FAUSTÃO. Quero, na igreja, exercitar a fé que não tenho, senão não exercitaria. Como minha fé é pouca, reflito! Ou serei muito exigente com as coisas do meu interior? Eu quero um domingo sem FAUSTÃO. Prefiro uma missa em latim. “Dominus vo bisco” – nem sei se é assim que se escreve em latim. O padre ficava de costas pro povo, mas a gente se deixava levar pelos mistérios da Santa Madre Igreja. Hoje a missa é moderna, o padre celebra em portugûes e de frente pro povo, mas o que falam ninguém continua escutando, nem mesmo a maioria deles. As mulheres todas não iam pra igreja sem a mantilha pra cobrir a cabeça. Frei Damião mandava se retirar do recinto sagrado, tamanha era a devoção. Eu quero um domingo sem FAUSTÃO. Desliguei a TV, mas enquanto esperava o elevador, o vinzinho estava vendo quem? – Ele, o Faustão! A banca de revista da esquina da rua estava com a TV ligada em quem? Nele, no Faustão! Qualquer coisa é melhor que ele, por isto até da missa em latim senti hoje falta e senti falta dela. 

Por favor, você que inventou a semana, reinvente-a e comece do zero. Mas não troque o nome dela pelo de GUGU, tampouco pelo de Eliana. Faça um domingo com jeito de domingo – com sino tocando na igreja, com coroinha, ostensório, véu na cabeça das mulheres e homens tirando o chapéu. Mas Faustão não. Almoço em família, passeio no parque, cinema, pipoca, nada será vão, mas FAUSTÃO não!