Terror na van!
Hoje passei por um susto, quase um trauma dentro daquela van! Estou fazendo um curso de guia de turismo em Canoas. Há uma van que me leva e me busca daqui pra lá, de lá pra cá... todos os dias.
E é certo, sou o mais velho ali dentro, descontando o piloto. Naquele pequeno universo de 15 passageiros e 1 motorista, eu sou o único homem dos 15 passageiros. Em alguns dias aparece outro guri, mas não sei bem. Não gosto de ser social em lugares pequenos.
Mas ali estava eu, a única salsicha naquele molho. E diga-se de passagem, um belo molho. Requintado, deleitoso, temperado com arrogância, riqueza e charme, além de um gole loiro de cerveja pra dar mais sabor. É um banquete pros olhos.
Infelizmente, o banquete é só pros olhos mesmos. O apreciador da boa mesa sabe que, ao provar, o gosto será amargo e o cheiro será fétido. É impressionante o dom que algumas mulheres têm de ficarem mais feias a cada frase que dizem.
Mas nesta sexta-feira eu estava acomodado bem no meio do molho, pra lá das 22 horas da noite, no balancear da van, cruzando fronteiras, atravessando rapidamente de Canoas até Porto Alegre quando ouvi algo muito raro, quase inimaginável numa roda de mulheres: O silêncio. E tudo que se escutava era o som da televisão, transmitindo o último capítulo da novela da Globo. Escondi meus ouvidos atrás dos fones e fui escutando à rádio Gaúcha, as últimas dos esportes, do novo ministro da fazenda, dos assaltos do cotidiano, enquanto ao longe ouvia só o bochimcho dos diálogos na TV.
- Dá um gás no volume aí, Gerá! – pediu uma das gurias ao Geraldo, motorista da van.
Ele aumentou o volume da TV na van, eu aumentei o da rádio no meu celular. Mas o terror estava por vir. Cena que jamais imaginei. Não condeno quem assiste qualquer tipo de programa, desde que leve a vida sabendo que aquilo é um programa de TV, uma distração, uma bobagem, um relaxamento, um pormenor.
Até que, na TV, um homem era empurrado até o parapeito de um prédio. Parecia ser uma prisão, ou algo assim. Outros ameaçavam jogar-lo, enquanto eu escutava a voz do Zé Aldo Pinheiro na rádio. Pude perceber que os atores entoavam em coro:
- Joga! Joga! Joga! Joga!...
Todos na telinha querendo a morte do personagem moribundo que estava para ser arremessado. Foi então que aconteceu o acidente. Acidente de vida. Nunca imaginei, gurias na faixa de seus 17 a 20 e poucos anos, que deveriam estar preocupadas com a vida, com a noite de sexta-feira que já se aprumava promissora, com possíveis combinações de eventos para o fim-de-semana, essas raparigas pueris, entoaram em alto e bom tom e juntaram-se ao coro, como que gritando o nome de um time de futebol:
- Joga! Joga! Joga! Joga!...
Fiquei abismado. Fiquei apavorado. Fiquei surpreso. Se fosse gay, teria ficado PAS-SA-DO! Tem mais coisas pra se preocupar nessa idade, gente. Gurias, por favor: O mundo é maior que essa novela... o mundo é maior que essa van do terror...
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*Este texto tem sequência no texto “Homens amadurecem antes que as mulheres”, que publicarei aqui amanhã.