Carregador de Peixes

Do alto de um edifício escuto o som de uma grande metrópole; chega a ser assustador a quantidade de poluição sonora, em meio a uma selva de pedras, aviões, helicópteros e algumas aves, circulam sobre o céu. Tudo se reflete em buzinas, sirenes e freadas de carros; vejo mais que uma selva, vejo um relevo de prédios e construções que cercam nossa cidade. A olho nu chega-se a pensar na beleza escondida na feiúra de concreto, mas lá de baixo tudo se passa por despercebido e não alcançamos o mesmo grau de esplendor que vimos lá de cima. Não posso afirmar, mas pra cada espetáculo tem-se seu publico; a cada mostra de arte, algo novo e confuso surge, assim como nossa cidade. Gostaria de ver nossa cidade engarrafada como aqueles barcos; tenho um em minha sala e toda vez que me pego admirando-o, penso: será que caberíamos dentro de uma garrafa? Mas isso não importa muito, pois o mundo já é uma imensa garrafa, mas diferente dessa que contém líquido. Isso nos deixa mais real perante a arte de Deus.

A paz se estabelece quando todos confiam na boa vontade do ser humano” acho que li essa frase num daqueles calendários de Seicho-no-ie, aquele calendário é uma espécie de mundo superior ou uma civilização racional mais avançada que nós. Ali contém coisas tão simples e que o ser humano não consegue acreditar, mas ele fala de nós, fala do homem. Que homem que ele fala? Com freqüência, ao despertar da manhã, parece que tenho um reflexo desse mundo superior; acordo com uma vontade imensa de me encontra na paz e de alcançar a luz. Às vezes duram dias essas minhas buscas avançadas e quando menos espero, lá estou eu cometendo um erro irracional, uma estupidez, seja pelo transito, seja por um palito de dente. Volto ao topo e tento refletir demasiadamente sobre o ocorrido e não consigo nem mesmo me explicar, então logo penso que em nossa natureza o bem é algo normal e que na verdade o tal mundo superior é o nosso cotidiano e as inexplicáveis atitudes contra nós mesmos também. Não seremos serenos nem hoje nem nunca e nossa tendência é viver de concorrência. Esperaremos que Deus nos jogue uma bomba atômica repleta de luz e compaixão. Até lá alguns tentaram e outros se esforçaram apenas para viver.Viver é algo muito confuso se tiver como base a forma como vivemos; são tantas formas de viver que nem sei explicar como eu mesmo vivo e acho que não vivemos; acho que empurramos com a barriga para não perder o trem azul.

R Davoglio
Enviado por R Davoglio em 13/12/2006
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