Merô
 
 
Giustina escreveu sobre dois de seus grandes desejos de adolescente. Um deles era ter um apelido, ela nunca conseguiu. Eu, por minha vez também tinha esse desejo e quando tinha esse desejo também não consegui. Mas como o Universo está sempre conspirando a nosso favor, anos mais tarde ganhei um apelido que pegou: Merô.
 
Chamaram-me de Maria Olímpia, um nome danado de grande para uma menina e, além disso, um nome imponente, vetusto. Sei lá se por preguiça passei a ser simplesmente Maria, e assim me chamaram meus pais e parentes, Arantina inteira. Dois de meus irmãos morreram me chamando de Maria, para os outros sete fui sempre Maria Olímpia. Gosto de meu nome e gosto que me chamem assim, se é para falar o nome, sem apelido, prefiro que me chamem assim, com os dois, nem Maria nem Olímpia, mas Maria Olímpia. Mas eu teria gostado mais se fosse Maria Pia, nome esquisito, mas nome de princesas, nobres e nome de minha tia Mariquinha. Então esse era o apelido que desejava ter: Pia. Mesmo sabendo que poderia acabar sendo motivo de gozação: Vá para a pia lavar os pratos, Maria!  Em minha vida apenas duas pessoas me chamaram de Pia, o que já valeu e gostei. E não posso negar que adoro o apelido que acabou pegando: Merô.
 
Não é difícil entender como acabei me tornando Merô – Fabiana, minha sobrinha queria falar meu nome e acabou juntando uma parte com a outra e o que deveria ser Marô acabou se tornando Merô. E o apelido acabou se espalhando porque meus sobrinhos, mesmo os que sabiam falar meu nome direito, gostaram da economia que fariam e aderiram ao Merô e Merô passei a ser não só para eles, mas para muita gente. Meus pequenos schnauzers, por exemplo, me conhecem como Merô, porque todos em casa, mesmo minha mãe, para quem sou Maria, e os irmãos, para quem sou Maria Olímpia dizem, se dirigindo a eles: Merô chegou! Vão com a Merô!
 
Aliás, já me acostumei a ser mulher de muitos nomes, pois quem não me conhece bem me chama de muitos nomes, menos o meu: para essas pessoas sou Maria Olívia, Elvira, Adélia, Amélia, qualquer outro nome antigo, menos Olímpia.
 
Fico aqui pensando se não poderíamos realizar o sonho de adolescente de Giustina e arranjar-lhe um bonito apelido (Maria della Giustina). Que não seja Mariazinha, Mariquinha, Mariinha, Marieta ou Zizinha. Aí vale mais o nome Maria, que sempre andava acompanhado, mas que está voltando à moda, sozinho. Hoje é chique ser Maria.  Simplesmente Maria.  E aqui me lembro de meu tio sempre me chamando: Sai da lata, Maria. Eu não ligava quando assim me chamava ou até quando cantavam para mim: Maria Escandalosa! Mas me chamarem de Maria vai com as outras eu nunca aceitei, porque eu nunca fui com as outras, elas é que comigo vão.


(Na foto, Fabiana, responsável por meu apelido)