PAI E FILHO DORMEM NA PRAIA.
Por Carlos Sena
No dia dos pais fui caminhar, como de costume, no calçadão de Boa Viagem. O dia estava meio nublado, mas aproveitando uma nesga de sol decidi caminhar. No trajeto, uma cena me mereceu atenção, embora quase ninguém a tivesse percebido: sobre a mureta (tipo bancos de praça) que margeia o calçadão, dormia tranquilamente um homem. Aparência simples, sandálias havaianas, camisa aberta no peito, ele dormia como que entregue a natureza e ao bucolismo da praia naquela manhã de ventos frios de agosto. O grande detalhe: sobre ele, dormia o seu filho. Uma criança em torno de sete anos de idade, totalmente relaxada por entre as pernas do pai e como o pai, dormindo como se anjo fosse.
Por Carlos Sena
No dia dos pais fui caminhar, como de costume, no calçadão de Boa Viagem. O dia estava meio nublado, mas aproveitando uma nesga de sol decidi caminhar. No trajeto, uma cena me mereceu atenção, embora quase ninguém a tivesse percebido: sobre a mureta (tipo bancos de praça) que margeia o calçadão, dormia tranquilamente um homem. Aparência simples, sandálias havaianas, camisa aberta no peito, ele dormia como que entregue a natureza e ao bucolismo da praia naquela manhã de ventos frios de agosto. O grande detalhe: sobre ele, dormia o seu filho. Uma criança em torno de sete anos de idade, totalmente relaxada por entre as pernas do pai e como o pai, dormindo como se anjo fosse.
Segui adiante. No meio do caminho tive vontade de voltar e fotografar com o celular aquela cena belíssima – verdadeira comunhão entre pai e filho num dia tão especial para os dois. Imediatamente desisti da foto, pois aquele momento talvez perdesse a significação se fosse transportado pra a fotografia, mesmo sem que eles percebessem, pois estavam dormindo. Preferi seguir imaginando as possibilidades acerca do que pudesse estar acontecento ali. Uma delas era a mais provável: imaginei que o pai, provavelmente trabalhador de salário mínimo ou vivendo de biscate, deu esse presente ao seu filho: o mar! Certamente por não ter dinheiro preferiram adormecer em companhia da natureza, pois certamente a vontade fosse de sentar na barraca, tomar sorvete ou água de coco, refrigerante ou mesmo caminhar a esmo praia afora. Na minha cabeça era um caso típico de um pai que ama o filho e que no seu dia deu de presente ao seu próprio filho um passeio na praia mais badalada de Pernambuco. A esposa e mãe do garoto? Certamente estava em casa fazendo o comer. Talvez não pudesse tê-los acompanhado por conta do preço da passagem, mesmo entendendo que no Recife em finais de semana o ônibus cobra tarifa social, ou seja, meia passagem para todos.
Voltei da caminhada, mas a dúvida persistia acerca da foto que eu não tirei. Mas acho que fiz certo, pois aquele momento de entrega não precisava ser invadido a despeito de nada. Afinal, a cena não sairá da minha cabeça nem a lição de vida prática ali colocada pra quem quisesse ver... Na orla, os restaurantes chiques estavam superlotados de pais e filhos se confraternizando, ignorando que na beira mar um simples homem com seu filho comemoravam um dormindo sobre o outro...
Voltei da caminhada, mas a dúvida persistia acerca da foto que eu não tirei. Mas acho que fiz certo, pois aquele momento de entrega não precisava ser invadido a despeito de nada. Afinal, a cena não sairá da minha cabeça nem a lição de vida prática ali colocada pra quem quisesse ver... Na orla, os restaurantes chiques estavam superlotados de pais e filhos se confraternizando, ignorando que na beira mar um simples homem com seu filho comemoravam um dormindo sobre o outro...