MEU PAI NÃO ME ENSINOU... (*)

                                                 Por Carlos Sena

 
Meu pai um dia me falou pra que eu nunca mentisse. E me mandou ainda ouvir a canção do Roberto que fala disto. Meu pai um dia me perguntou quando eu ia pro cabaré, pois “cabra macho” tinha que logo se acostumar com as mulheres. Meu pai um dia me pediu pra lhe contar como eu me masturbava e em quem eu pensava para me estimular sexualmente numa “punhetinha”. Meu pai um dia ficou feliz quando descobriu que eu poderia estar com uma gonorréia, pois significava coisa de macho. Meu pai um dia não me deixou estudar numa turma que era composta mais por mulheres do que homens – alegava que tinha medo de eu ficar com trejeitos. Meu pai um dia me falou para que eu nunca levasse desaforo pra casa: um dia eu cheguei em casa com a cara sangrando e ele sem perguntar nada, me deu uma surra pra valer. Depois que descobriu que o sangue do meu rosto foi por conta de uma queda que levei do carrinho de rolimã, não me pediu desculpa – disse que a surra valia como crédito. Meu pai um dia não me deu o dinheiro do cinema porque o filme era de amor. Alegou que filho dele tinha que assistir a filmes de mulheres PELADAS, de guerra e assemelhados. Meu pai um dia botou um amigo meu pra fora de casa porque achava que meu amigo tinha um “jeitinho”... Meu pai um dia me obrigou a extrair um dente inflamado sem anestesia, porque homem não podia ser frouxo... Certo dia, meu pai me arrastou pelos cabelos porque eu estava de sandálias havaianas – era moda na minha terra e todos os meus amigos do meu top usavam. Cheguei em casa e levei uns safanões pra “aprender”, como ele dizia. O melhor é que não aprendi nada de tudo isto que ele me disse que fizesse... Aprendi a gostar do estudo, mas ele nunca me ensinou. Aprendi a gostar de respeitar os outros, mas isto ele nunca me ensinou. Aprendi a gostar de bons filmes, mas isto ele nunca me ensinou. Aprendi a amar alguém e ser fiel, mas isto ele nunca me ensinou. Aprendi a me preservar (usar camisinha e fazer sexo seguro), mas isto ele nunca me ensinou. Aprendi a gostar de ser justo e jamais mentir, mas isto ele nunca me ensinou. Aprendi a viver do meu salário, mas isto ele nunca me ensinou. Aprendi, finalmente a colocar AMOR em tudo que faço. Aprendi acima de tudo e a despeito de qualquer coisa, a ser feliz no amor respeitando quem comigo estiver dividindo o cotidiano... Do meu jeito! Mas isto ele nunca me ensinou...

(*) Crônica baseada em histórias verídicas relatadas ao autor por alunos, parentes e amigos... Qualquer semelhança não será mera coincidência.