O ENCANTADOR DE CÃES 
 

Amanhã pela manhã vou receber uma visita especial: um educador de cães. Fernando, um estudante universitário, virá aqui conhecer os meus pequenos Joca e Pongo, para uma terapia familiar – verificar o comportamento dos pequenos e ver o que estamos fazendo para educá-los.

Fiquei sabendo da existência de um programa na TV paga, chamado O Encantador de Cães, por minha amiga M N. Ela falou-me do programa e de como ele tinha modificado o comportamento de um de seus filhos, não só em relação ao seu cão, como também na relação com outros humanos. Ela disse-me que o homem era um mágico. Assisti alguns e concordei – mágico mesmo. Ele resolve tudo em um minuto, os problemas mais intrincados, os cães mais danados são completamente domados. Pura magia. Compreensível. Na TV não há tempo para mostrar todos os detalhes, então a gente não vê como o processo se desenrola. Só o problema apresentado e o resultado.

Quando fui adotada pelos pequenos decidi ser uma boa companhia para eles. Como nunca vivi com um cão antes, resolvi me instruir. Um dos livros que comprei foi exatamente O Encantador de Cães, por Cesar Millan, o próprio. Se Millan era rico, com o livro ficou milionário. E eu contribuí para isso, com um tiquinho, comprando o livro.

Cesar Millan, mexicano de nascimento, mas hoje cidadão norte-americano, viveu toda a sua vida entre cães, o que lhe deu uma grande experiência no assunto. O livro foi escrito para ser o que é: um best-seller. Fácil de ler abusa também da autopromoção: o tempo todo cita personalidades com as quais Millan convive – estrelas de primeira grandeza e seus cães problemáticos. Millan cresceu com cães na Fazenda de seu avô e quando emigrou para os Estados Unidos continuou trabalhando com cães. Hoje, além de escritor e apresentador de um programa televisivo, possui um Centro de Psicologia Canina onde cuida dos cães de seus clientes (que garantem a sobrevivência do Centro) e cães resgatados das mais diferentes origens. É ali principalmente que ele coloca em prática suas teorias ou as comprova.

Cães não são humanos e não podemos nos esquecer disso. Mas como os homens, os cães são animais gregários – vivem em bandos (matilhas) mesmo que seja de dois. Cães, como os homens, precisam de um líder – seja ele outro cão ou um homem. Então, quando temos um cão, ou somos o dono dele ou ele se torna nosso dono. Um tirano. É preciso então não deixar que isso aconteça – temos que tomar as rédeas do relacionamento ou tudo irá para o brejo. A base desse relacionamento tem que seguir a seguinte ordem: exercício, disciplina e carinho. O carinho tem que vir por último, nunca ser o primeiro. Nunca mesmo. É aí que mora o perigo. Aqui em casa o carinho vem primeiro. E os pequenos são os nossos nenês. 

O pouco que falei com Fernando já deu para perceber – ele pensa como Cesar Millan, em termos de matilha e liderança. Vai ser duro convencer o pessoal daqui que cachorro não é gente, pois até eu já estou acreditando que é. Pelo menos os meus, são bem parecidos.