NÃO BASTA SER PAI. TEM QUE PAI...ticipar.
Por Carlos Sena
Dá-nos a impressão de que o DIA DOS PAIS é meio xoxo. Ele sempre nos remete a comparações com o dia DAS MÃES, posto que filhos não são fecundados sozinhos.
Certamente que ninguém substitui a mãe no processo de “guarda e acondicionamento” da criatura humana. Da mesma forma que o processo gerador da vida não aconteceria sem que o homem tivesse garantida sua participação. O que nos encafifa nisto é que secularmente a mãe desfruta dessa primazia de DONA da criação. Talvez nem exista culpa, mas circunstâncias culturais atreladas ao domínio machista do mundo, desde a mais tenra idade das civilizações. Sempre o homem esteve ali dizendo como as coisas são; definindo modos de pensar, agir e sentir, com participações tímidas das mulheres.
O dia dos PAIS é menos romântico. Talvez porque no processo histórico sempre os homens entenderam que cuidar da casa e dos filhos é coisa de mulher, conseqüentemente, de mãe. Lugar de mulher ainda é na cozinha, para muitos homens. Mulher ainda tem que ser de cama e mesa para muitos homens. Sendo os homens PAIS e as MULHERES mãe, uma coisa se atrela a outra nesse contexto. Certamente que tudo isto tem mudado pra melhor, mas não ao ponto de que as mães dividam com os pais meio que “meio a meio” a criação dos filhos. O filho tá ruim na escola? Lá vai a mãe! O filho adoece? Lá vai a mãe pedir ao chefe pra faltar ao trabalho! O filho quer ir à balada? Pergunte a sua mãe, diz o pai. O filho médico não pode assumir o emprego público? Lá vai a mãe resolver tudo por ele! Dividir as orientações do filho? A mãe orienta a filha mulher e o pai o filho homem! Essas teses são por demais conhecidas, mas as exceções já se fazem sentir, ou seja, já existem PAIS e MÃES que educam os filhos sem demarcar atribuições de MACHO OU DE FÊMEA.
Houve um tempo em que dia dos pais nem existia. A mãe era, de fato e de direito, a RAINHA DO LAR. Dito diferente: a mãe era uma doméstica estilizada que cuidava da casa e dos filhos e ainda dormia com o patrão à noite. Atualmente, o DIA DAS MÃES mudou de configuração pra melhor e o dia dos pais que nem existia, passou a existir embora meio insosso se considerado ao das mães. Evidente que o comércio tem lá sua parcela de culpa, mas nesse caso é uma culpa perdoada. Apesar dos presentes sem muita significação, passou-se a valorizar mais os papéis de pais e de mães no contexto da sociedade urbano industrial.
Deixando de lado o aspecto sociológico, fato é que o amor da vida tem duas moradas: o homem e a mulher. Por conseqüência a MÃE E O PAI. O dia dos pais acontece dentro do perfil que o próprio homem estabeleceu (sem consciência disto) na história para si mesmo: homem não chora, coisa de homem é carro, é rua, é sala, revolver, roupa de cor austera, é dormir fora, ter amantes, manter a casa, arrumar namorada pro filhos homens, prender em casa filhas mulheres, etc. “Menos”, podem dizer. Concordo. Mas as mudanças ainda são tímidas e muitas delas acontecem de fora pra dentro, não de dentro pra fora. Meno male. Antes tarde do que nunca.
A expressão que mais me chama atenção neste contexto é “NÃO BASTA SER PAI, TEM QUE PAIticipar”... Claro que dia de pai e de mãe é todo dia. Mas que o dia dos PAIS É XOXO é, mesmo sabendo que pai e mãe são, cada um ao seu modo, fundamentais para o mundo... Sendo prático: dia dos pais ou das mães quem paga a conta do almoço, dos presentes, dos paisseios? Ganha um doce quem advinhar...