MILAGRE DA CURA

Todos sabem que a saúde no Brasil sempre foi precária. Imaginemo-la num longínquo rincão de Minas nos anos 50. Os recursos eram os “farmacêuticos, raizeiros e curandeiros” que nem sequer tinham um curso primário.

Num distrito de uma região do nordeste mineiro havia um desses “farmacêuticos” muito

consultado pelo povo, de nome Tião Farmacêutico. Ele misturava noções de medicina alopática, homeopática com espiritualidade. Diziam que era kardecista. Algumas pessoas exaltavam-no dizendo que “Abaixo de Deus só o Tião Farmacêutico!”. Faziam enorme fila à porta de sua botica.

Aconteceu que a seca e outras mazelas do nosso malfadado sistema agrário redundassem no tremendo êxodo rural, rumo às capitais. Também saíam à procura de terras férteis em outras regiões e em outros Estados. O que levou Tião Farmacêutico a procurar, também, outras paragens. Só ficaram os teimosos, orando para Deus mandar chuva e melhores dias. Aliado a estes tormentos da natureza, as doenças proliferaram. Um lavrador, cuja esposa estava acamada, não botando fé nos remédios caseiros e nas drogarias que substituíram a antiga botica, não teve outro jeito senão sair à procura do Tião Farmacêutico estivesse onde estivesse. Como era muito difícil sair com a agonizante, levaram, então, seu nome, a data de seu nascimento e os relatos de sintomas da sua doença: desânimo, descoramento, vômitos, língua suja e desarranjos intestinais. Localizado o milagroso farmacêutico, ele receitou uma “garrafada” e um vidro de comprimidos. Como o lavrador não tinha relógio, para ministrar os remédios de hora em hora, foi-lhe sugerido prender um galo debaixo de um balaio, sob a afirmação de que este animal canta exatamente de hora em hora.Assim foi feito. Quando o carijó cantava, era ministrado um comprimido. A mulher, pouco a pouco foi recobrando a saúde, voltou-lhe o ânimo para enfrentar o dia-a-dia.

Tempos depois o lavrador e o Tião Farmacêutico se encontraram em um jubileu em uma cidade da região. Tião perguntou: “E sua esposa, melhorou?”. O lavrador respondeu afirmativamente, mas ponderou: “Só que o galo morreu”. O farmacêutico, um pouco surpreso quis saber como. O lavrador opinou: “Acho que foi o efeito dos comprimidos”. É que o lavrador, ao invés de dar os comprimidos à enferma, enfiava-os goela abaixo do galo, prisioneiro. Ouvindo-o e não perdendo a pose, Tião Farmacêutico saiu com essa: “Quem estava marcada para morrer era sua mulher; o galo morreu para salvá-la”.

Sô Lalá
Enviado por Sô Lalá em 08/08/2011
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