A TEMPESTADE.

Sob o imenso dossel das árvores dormita a floresta.
O maravilhoso sol tropical esforça-se para varar o cipoal e chega ao solo, filtrado,dando-lhe aspecto de fino rendado.

Os enormes troncos milenares, cobertos de musgo, servem de apoio a multicoloridas orquídeas e receptivas bromélias. Lá no alto, macacos e micos ensaiam seu número de acrobatas circenses, enquanto, bem mais abaixo, borboletas colorem o ar, beija-flores - volúveis - vão de flor em flor e as abelhas, eternas trabalhadoras, dão início à sua coleta. No solo, a vida pulula prenhe de milhares de insetos e répteis na sua labuta diária e roedores, nervosos, correm de um lado para outro, assustando os fulvos gamos que, logo, levantam suas pontudas orelhas. Sob o mato ralo, espreitam os predadores preparando-se para a exaustiva tarefa de subsistir.
Bem próximo, um cristalino regato deslisa sobre os seixos com um tinir de cristal partido, seguindo, alegre, o seu rumo.

Logo, uma leve brisa agita os ramos e põe em alerta todos os animais! O ar vai ficando pesado, a eletricidade é sentida e tudo parece estático. Nada se move. No céu, nuvens carregadas já cuidaram de encobrir o sol, que ainda resiste por alguns instantes.
Então, Vulcano despeja toda a sua ira; vem o primeiro raio, metálico, luminoso, coruscante, trazendo logo atrás o trovão que reboa, troa, aturde e explode fragorosamente, espantando os animais, que se atropelam em busca de abrigo. Depois outro e mais outro!

E vem a chuva, grossa, torrencial, que cai em catadupas sobre a ramaria lá no alto, fazendo-a curvar-se sob seu peso e liberar a água que, só assim, alcança o solo.

O regato recebe as águas e se avoluma, cresce - túrgido- e vai correndo cada vez mais rápido.
Seu som, antes cristalino, agora ruge, ameaça, amedronta. Sua águas, já turvas, contorcem-se por entre as rochas, rodopiam, redemoinham, retrocedem e depois avançam com ímpeto redobrado, levando de roldão pedaços de suas margens , seguindo rumo ao mar que as aguarda indiferente. E o temporal castiga a mata, açoita-a violentamente por tempo que parece interminável, para, em seguida, assim como surgiu, cessar totalmente.

O reboar dos trovões vai ficando mais espaçado e longínquo e os raios só teem a intensidade de pequenos lampejos no horizonte.

A deusa Íris, a quem se deve a mudança, afasta Vulcano da sua infernal bigorna, ainda resmungando, e puxa o azul do céu, abrindo a cortina para o velho sol reiniciar sua apresentação.

Volta, pujante, a vida na floresta que, agora tem novo brilho e a última gota dágua se desprende de uma folha e cai ...

Assim, também, nossa vida tem suas tempestades, mas sabemos que sempre a deusa Íris cuidará para que não se perpetuem!






paulo rego
Enviado por paulo rego em 04/08/2011
Reeditado em 12/09/2011
Código do texto: T3139054