Rio Grande do Sul, estado de cagalhões!
O povo gaúcho virou um povo cagão! Isso mesmo. Perdemos nossa coragem e vontade de nos indignarmos. O velho orgulho gaudério de lutas e revoltas jaz plácido na letra do hino rio-grandense e nas fotos dos museus.
Digo isso por dois motivos: Primeiro, pelo cinquntenário da Legalidade que se aproxima. Segundo, pois hoje parei para ver às notícias e percebi a imensidão de fraudes, falta de estrutura, falta de segurança, saúde, enfim, qualidade de vida que nos é prometido cada vez que pagamos uma conta. É como se pagássemos um rodízio de churrasco e nos trouxessem um prato de salada e nos mandassem embora. Tu não irias protestar com o gerente?
Sei que por aqui, nessa linha, muita gente já parou de ler. Os que continuam, certamente sabem de quê falo quando falo na Legalidade. Tenho muito orgulho de me chamar Fábio Leonel Grehs, com o Leonel em homenagem de meu pai ao papel de Leonel Brizola na Legalidade. Aquilo sim foi uma revolta. Faixas dizendo “O Rio Grande do Sul resistirá” e um povo determinado a sair e lutar. Não tinha Twitter. Não havia Facebook. Afinal, a revolução não começa por uma #. A revolução não é na internet, é na rua.
Naquela época, os jornalistas eram mais ativos. Hoje, como grande parte dos gaúchos, são um bando de cagões. Respeitam por demais as crenças de seu veículo de comunicação. Não podem dar sua opinião. A opinião passa pelo coador da firma. E a firma tem suas alianças políticas, religiosas, armadas e, pasmem, até clubísticas! Um telefonema e tudo é censurado. Pensam que não existe mais censura? Leiam jornais...
Quem me dera ter o poder de falar isso numa Atlântida, Gaúcha, Bandeirantes, Guaíba! Provavelmente, seria demitido no outro dia, mas valeria a pena. Quem me dera ser professor e liberar meus alunos para protestarem, lutarem por um ideal, sabendo que eles farão isso. Os professores só se unem para pedir aumento do próprio salário. Foi-se o tempo em que a revolta começava atrás dos muros das faculdades. E o que dizer da classe artística jovem, que desempenhou grande papel na Legalidade? Atores, cineastas, músicos, fotógrafos, só se reúnem em baladinhas descoladas. As casas de teatro, locais importantes da reunião jovem na Legalidade, hoje só servem pros mesmos beberem e usarem drogas. Debates políticos, nem pensar...
O que fazer? As frases gaúchas “não podemo se entregar pros homi” e “não tá morto quem luta e quem peleia” hoje, ficam só pras torcidas de futebol. E, por mais absurdo que pareça, aí está um bom exemplo. A indignação de uma torcida derruba jogadores, treinadores, dirigentes, tira arames dos estádios, muda a cara de um time. É impossível organizar dois ônibus de protestantes para irem até Brasília mas, facilmente, consegue-se milhares de torcedores para irem até Buenos Aires, Munique, Yokohama, Dubai. Se você chegou até aqui no texto, és um herói. Então, por mais risível que pareça a comparação com o futebol, vamos ver porque isso acontece:
Lideranças! Existem lideranças nas torcidas que te dizem como fazer, quando será feito, e porque será feito. Eles usam bem a ferramenta da internet, apenas com avisos, sem debates. O debate já foi feito, sem alardes. Nos chamados sindicatos, que deveriam defender as categorias e serem as lideranças, pouquíssimos não são liderados por meros partidários, que buscam currículo para se candidatar futuramente a deputado, senador, governador...
Ponto de encontro! No futebol, claro, é mais fácil. No fim dos jogos, tem uns 30mil ali querendo protestar, dependendo da situação. Mas, se as lideranças funcionam, tu vais conseguir juntar o pessoal. Cabe às lideranças divulgar e conseguir informar as pessoas do que vai acontecer, como, quando e aonde, como as pessoas conseguem organizar uma festa e levam pra uma casa noturna mais de 300 pessoas, só com informação e ferramentas, como as mídias e AS RUAS. Cartazes, flyers, etc, ainda funcionam. Outra vez, os partidários se metem. Ao saber de uma revolta, eles aparecem com bandeiras de partidos, boné, etc... Isso é currículo pra um partido! Na campanha política, tu vai ouvir dizer “o partido X participou ativamente nos protestos para conseguir tal coisa”. Só balançaram bandeirinhas... Tem que tirar-los a pau do protesto! Corvos!
Ideal! O mais importante! Ninguém vai na festa que a banda é ruim, ninguém vai protestar no estádio se não vale a pena. Com certeza, esse problema que te afeta, afeta mais gente. VÁ ATRÁS DESSA GENTE! Target! Não adianta chamar o roqueiro pro pagode, veja quem está sendo afetado e prove por A + B que tem que ser feito, como vai ser feito, quando, porque e, principalmente, qual a meta que queremos alcançar. Mais uma vez, entram as lideranças...
Resultados! Os protestos dos bicicleteiros lá, funcionam? Claro que não! Eles querem o quê? Ciclovias? Não estão protestando certo... E já atingiram o resultado, seja ele qual for? O protesto deve continuar até o resultado ser alcançado! Não desistir! Defender sua opinião! Brigar! Até o fim! “Não ta morto quem luta e quem peleia”! “Não podemo se entregar pros homi”! Se esqueceu, gaúcho?
Parece que sim... 50 anos depois da Legalidade, nossa indignação morreu no hino e nos livros de história...
E não adianta perguntar o que eu faço, o que o outro faz, o que a imprensa fará! Pense no que você está fazendo... ao menos PENSE.