O CAIXÃO SOLTOU O FUNDO
Trabalhei Muitos anos com treinamentos. Viajei muito, conheci muitas empresas, seus produtos e processos produtivos. Conheci muitas pessoas sendo que algumas fazem parte das amizades até hoje.
Algumas empresas ofereciam todas as condições necessárias, liberavam os trabalhadores das atividades para se dedicarem aos treinamentos, possuíam ambiente físico e equipamentos ideais para as atividades. Em outras tudo era improvisado, tínhamos que levar os equipamentos necessários e os participantes, muitas vezes, trabalhavam à noite e ia para o curso durante o dia. Alguns cursos eram obrigatórios por lei, como os de segurança do trabalho. Era uma luta para manter a atenção do grupo e conseguir passar o conteúdo com proveito.
Numa época eu desenvolvia um curso para os trabalhadores de uma siderúrgica de uma cidade próxima. A sala ficava perto do forno onde o ruído incomodava e exigia falar mais alto. Os participantes cansados do trabalho, do calor, queriam e mereciam dormir. Mas eu tinha conduzir a atividade. Eu movimentava dentro da sala, alternava o volume de voz, fazia algumas brincadeiras para alertar a turma. Estava difícil. Um reclamou que estava cansado e teria que trabalhar a noite, outro concordou e ainda disse que era até perigoso. E eu apresentando um programa de Segurança no Trabalho.
Num momento a garganta começou a arder, muitos cochilando e eu resolvi alertar a turma e sai com esta:
Olha aqui gente, vocês estão achando que está tudo ruim e difícil. Por aqui as coisas estão até boas. Poucas semanas antes de vir para esta cidade eu trabalhava numa região que não tem o mesmo nível de emprego e vi uma situação que é bom a gente pensar. Logo após o curso eu estava na porta da empresa e passava um pessoal conduzindo um caixão rumo ao cemitério. E não era de carro não, nem naqueles carrinhos apropriados. Carregavam nas mãos e bem em frente ao portão da firma o caixão soltou o fundo.
Todo mundo estava muito atento e fez-se um silêncio por alguns instantes até que um mais exaltado se levantou e disse bem alto:
- Isso é um absurdo. Se fosse parente meu em processava essa funerária pra aprender a respeitar.
Eu perguntei:
- Por que senhor Antônio?
-Onde já se viu um absurdo desse tamanho? E o defunto caiu no chão?
- Não Sr. Antônio o defunto não caiu. Ele segurou na tampa do caixão quando o fundo estava soltando. Quem caiu foi o senhor. Dorme mais depois dessa.
Foi só gargalhada e eu continuei o meu curso antes que o sono da turma voltasse.
Dedico esta crônica-humor a todos os profisisonais de treinamento e especialmente a todos os quase onze mil treinandos que tive o privilégio de conviver com eles durante os quase vinte anos de atividade pois estes foram os que mais me ensinaram.
Divinópolis
Em 26-07-2011