A Correnteza

“Por mais que eu pense contra, sigo a multidão.” – Dito antigo.

Os meus olhos estavam marejados com a dor que o meu corpo não conseguia mais comportar. Sabem aquela sensação estranha que arde o seu coração sem queimar lhe o corpo? Aquele momento único que sabemos que existe algo mais além? Pois foi esta sensação que eu sentia naquele exato momento.

Não sei explicar por meras palavras detalhistas que, por ventura, pudessem preencher um vazio incomum que, vez ou outra, aparece na minha alma. Percebo que o quanto mais distante fico de tudo e de todos, mais e mais o vazio penetra no meu ser. Sei, por conseguinte, que a minha batalha constante contra o que eu sinto e com aquilo que eu sou faz com que a batalha se torne ainda mais demorada e perturbadora.

Sabem qual é o maior problema disto tudo? É ter ciência das coisas. Saber que aquilo que eu sou ou ei de sê-lo são apenas uma ínfima parte do que o mundo pode ser. Eu, para o mundo, sou apenas uma pessoa qualquer que sofre, ama e se perde em seus próprios pensamentos, o que eu sou para o mundo? Tudo e, ao mesmo tempo, nada.

E tive um momento de sublime epifania, ou, talvez, não tão sublime assim. Observei, com certa relutância, as pessoas ao meu redor e, de certa forma, não pude deixar de me contagiar com aquilo que elas acreditavam. Era, de uma certa forma, igual aquilo que eu imaginava as coisas como elas realmente são, sendo que, não posso falar tais coisas em público, minha filosofia de vida provavelmente chocaria muitos que não tem uma mente aberta para todas as possibilidades.

O que são possibilidades e probabilidades numa sociedade humana que teme a própria noção de pensamento? O que há com o mundo de hoje onde o errado é aquele que pensa mais que a maioria? Que está longe da curva do “sim senhor” que a grande massa se compensa em ter? Que, não que não creia, mas não usa como muleta a Bíblia Sagrada, o Corão ou o Torá? Que persevera em alcançar outros méritos que não apenas voltados para estudos religiosos? Sinto o arder em meu coração, pois me sinto deslocado da grande massa que é a humanidade. Sinto-me fora do eixo completo da sociedade por me fazer valer daquilo que eu sou e o que eu sou está em minha alma e no meu coração.

Mas, ainda assim, senti um impulso insofismável de me unir a massa, de saber o que é pensar sobre aquilo que eu penso completamente diferente. A minha indiferença sobre este pensamento filosófico não está porque não me conformo perante a isso, mas sim na falta de uma posição louvável que grande parte daqueles que escolhem esta estrada não o fazem valer. Não existe uma pessoa que seguiu os preceitos originais daquilo que escolhem e, para tanto, existe hipocrisia de ambas as partes. Tristes são aqueles que são tementes a uma coisa no qual não fazem total ciência do que o é. Eu sei.

Estive no meio, senti o pulsar do coração, a emoção forte que permeava todos os presentes, pois, assim como muitos outros, sou sensitivo, sinto as emoções, mas, desligado de todo o resto, analiso cada ação de uma reação de uma pessoa. Isto pode parecer frio, até mesmo robótico, mas é assim que eu sou. As minhas emoções não afloram completamente por desconfiança do que qualquer outra coisa. Não é isto, mas sim o meu conhecimento sobre aquilo que eu penso, o meu maior temor é a incompreensão dos outros perante aquilo que eu sinto.

Não tento, de forma alguma, impor aquilo que eu penso sobre os outros, apenas tento expor aquilo que eu sou e minhas formas filosóficas sobre a vida, a humanidade e tudo que me há ao meu redor Que a minha mente aceita quaisquer possibilidades que possam existir contanto que as possibilidades que eu acredito sejam aceitas pelos outros.

O que me deixa mais perturbado é que, apesar de grande parte dizer que me aceita como eu sou, sei que existe a possibilidade, remota, mas real que não existe este tipo de atitude. Que, pelo que eu sou, representa uma ameaça ao brilhantismo que é a defesa de uma filosofia de 3.000 anos de idade e isto me faz mais sozinho do que eu já sou.

Pouco importava, no entanto, naquele momento, pois estava disposto a ouvir. Senti um momento solene e incomum sobre o que é a amizade e aqueles que eu considero amigos, analisei, amargamente, com carinho e destemor, aqueles que eu os assim considerava. Uma tristeza eficaz veio a minha mente e fiquei, por decerto, em prantos, mesmo que eu não consiga mais chorar.

Alguns, por meio desta, poderão dizer que o que eu preciso é do amor incondicional daquele que tentam me apresentar, mas não é isso, se fosse isso que eu realmente necessitasse para preencher o vazio que está diante de mim, já o teria me entregado a isto. Não, já aceito a companhia dele e não é a isto que eu estou atrás. A minha explicação está muito mais além, ali nas estrelas e, também, tão próximo, mas o que eu posso fazer?

O que se há para fazer a respeito disso? De todas as coisas que eu quero no mundo, nada é possível nesta impossibilidade situacional? Quais as escolhas que devemos fazer?

Sinto-me perdido, mas não preciso de palavras de consolo nos quais vão me dizer que eu devo abraçar a existência dele ou que nele devo confiar, já ouvi estas palavras milhares de vezes e não surtem efeito, pois elas não me convencem por completo, não das pessoas que usam o mesmo modus operandi de sempre, a mesma ladainha que eu venho ouvindo desde os meus 13 anos de idade. Será que não entendem que isto não me chama a atenção? Será que não entendem que a repetição de uma mesma frase criam uma falácia em minha mente e no meu coração, pois, para mim, isto acaba parecendo um disco quebrado?

Abraçarei este caminho quando eles conceberem que existe uma possibilidade além da própria filosofia deles. Que, relutantemente, não conseguem conceber uma linha única de pensamento fora daquilo que o livro deles diz, nem toda a explicação está lá, assim como nem toda a ciência explica tudo, mas, existe, uma extrapolação e uma conjunção de que as duas coisas se completam. E não que uma sobrepõe a outra.

Quem sabe, um dia, eles hão de entender aquilo que eu escolhi. Da forma filosófica de compreender o mundo ao meu redor. De ser, antes de quaisquer outras coisas, um humanista, com um pensamento secular e que tem como base a lógica cientifica.

Espero que a fé deles que os fazem, ou assim deveria, serem tolerantes com outras pessoas, e saibam que os respeito com todo o meu ser, pois somente assim a sociedade pode se tornar igualitária como um todo.

Que nada neste mundo me fará parar de querer bem a certas pessoas, pois, assim como dizem que ele tem um amor infinito, sou incondicional quanto a isso. Não falo do amor com o sentido mesquinho que todos estão usando atualmente, mas algo além, algo que não pode ser posto em meras palavras, somente com olhar e ações.

E as palavras que eu ouvi? Elas sim me trouxeram uma epifania e como tal continuarão restritas ao meu coração.

Digo-lhes, desta maneira, uma rosa pode ser o meu jardim, um amigo, o meu mundo, e aquela que eu realmente amo, o meu universo inteiro.