Uma Crônica de Amizade
Em sendo candidato à Vida consagrada Franciscana, em certo encontro vocacional, um jovem idealista, que almejava ser um Irmão Menor, chamou-me a atenção. Neste encontro, uma sagaz psicóloga perguntou ao rapaz, que valorizava muito o dom da amizade, qual a característica que este possuía e que gostaria de doar aos membros de sua futura comunidade religiosa sem distinção. E, para a surpresa dos participantes do encontro, o jovem candidato falou que gostaria de doar a todas as pessoas que dele se aproximassem o dom da sua amizade. Ao ouvir essa resposta, imediatamente, a esperta psicóloga retrucou: “E, se ninguém quiser a sua amizade?” E o jovem balançando os ombros respondeu: “Isso é lá com eles. Quem está perdendo não sou eu.” E, todos riram da resposta.
A fala do jovem para alguns pode parecer arrogante. Porém, hoje refletindo sobre o fato percebo o quanto o jovem inocente foi feliz na sua fala. É melhor passar pela vida fazendo amigos do que deixando um rastro de inimizade e desamor. O jovem sem categorizar e limitar o conceito de amizade expressou o sentido desta. A verdadeira amizade é um dom livre e gratuito que a pessoa dá de si mesmo ao outro. O verdadeiro amigo doa-se sem esperar que o outro se doe. A amizade é desinteresseira. Ela não espera recompensas. Ela não é orgulhosa. Tudo crê. Tudo espera. Tudo perdoa. A sua alegria consiste em ver e fazer o outro feliz. A amizade é reflexo do jeito de ser de Deus nas relações humanas. Ser amigo não é adjetivo, mas sim substantivo.
Ao ouvir isso, talvez os teólogos e filósofos acostumados com conceitos precisos e bem elaborados, que cercam o objeto de todos os lados, dirão: “Mas, isso não é amizade, é amor!” Ao que respondo que não dá para ser amigo sem amar. Isso o próprio Jesus ensina no Evangelho de São João, o melhor tratado de amizade já escrito por mãos humanas. Deus é nosso amigo ainda, e até mesmo contando com, que não sejamos amigos dele. Verdadeiramente, amigo é aquele que ama.
...E tu, amas?