Sentado...

Sentado aqui estou para lembrar-me de um momento vago da minha vida. Distante este se foi que, agora, parece muito mais um sonho do que uma lembrança qualquer. Todos nós, por algum ocaso, ou acaso, já passou por esta sensação e sabe, assim como eu, como é difícil tentar compreender o que se passou naquele exato momento.

Tateio com as minhas mãos invisíveis os laços frágeis que permeiam a exata noção de como foram as coisas. Mesmo que não seja com a precisão tal qual que se possa dizer com todas as palavras, o que se pode fazer é imaginar como foi a situação. No seu devido o valor seria posto a prova.

Como podem ser deliciosas, ou amargas, as lembranças que estão em nossas cabeças e de como nos deixamos levar por algo que pode ter acontecido ou não. Mas não é assim a vida como um todo? Um vagar de lembranças que, muitas vezes, não passam de invencionices nossas? E não é daí que brotam os sonhos impossíveis? As ideias que levam a humanidade a um novo patamar?

É isto o que eu tenho aqui e nada além, lembranças. Estas me levam a escrever sobre passados que nunca existiram ou de futuros que, tenho fé, hão de existir, mesmo que não esteja vivo para ter minha presença ali, para admirar o futuro.

E qual era o momento vago que, por agora, tento me lembrar? Era um momento no qual, por um breve período de tempo, eu não tinha o que dizer. As mãos tremulas, o coração palpitava e o cérebro trabalhava incessantemente, mas as palavras não me saiam, se é que precisavam sair ou, se naquele momento, elas teriam algum valor real para ser apreciado.

Não, não existia nada que eu pudesse fazer naquele momento para que eu pudesse ajudar uma alma que, consolada estava, ainda assim precisava extrair o choro incontido que estava fazendo o espirito chorar e quem disse que o choro é a tristeza da alma incontida, não estaria mais certo naquele momento.

Tudo o que eu queria fazer naquele momento era abraçar aquela pessoa e fazê-la sentir confortada. Sabia que não era muito, mas, ao mesmo tempo, sabia que era o bastante. E é isto, as vezes não sabemos o que podemos dizer, o que podemos fazer, mas a escolha mais obvia está em nossa face. Um olhar carinhoso, um abraço acolhedor e fazer com que toda a tristeza deixe aquele momento.

Temos que nos aliviar, não nos deixar levar pela tristeza, mesmo que a dor real fosse perdurar por um bom tempo.

Se assim não o fazemos, como podemos ajudar uns aos outros? Lembro de como poderia tê-la ajudado de outras formas, nas outras oportunidades que me foram dadas, mas, não, fiz justo o contrário, arrependo-me amargamente disto, mas não são estas as nossas escolhas?

Mas, ali, fiz a minha escolha, e olhai-a nos olhos, por vários segundos e disse-lhe, única e simplesmente: “Não sou daqueles que dizem que é para engolir o choro, extravase, chore.”

E foi o que ela fez. Mas, mais ainda do que lhe pedir para fazer isso, sugerir que chore, era um abraço terno e gentil que eu queria dar. Afagar os seus cabelos e deixa-la liberar-se da sua tristeza única e singular. Não se façam de rogado. Não deixem este momento passar.

As palavras não são o bastante, nem as ações, mas quando o coração diz o que precisamos fazer, não deixe dúvidas quanto a isso. Apenas o faça.

Claro que, por vezes, achamos que o coração nos dá alternativas loucas que achamos que são completamente loucas, mas se a deixarmos de lado, não estaríamos deixando, abandonando, aquilo que nos faz humanos? Uma das maiores qualidades que permeia o nosso seio? Que é o amor?

E, neste momento, me arrependo por nunca ter falado a ela o quanto a amo... mas esta é uma outra história.