AS DIFICULDADES DE UMA VIDA MODERNA, POR UM HOMEM DAS CAVERNAS

As dificuldades de uma vida moderna, por um homem das cavernas.

Por Fábio Vinícius Alves

INTRODUÇÃO

Elas certamente existem dentro da mente de qualquer humano, ainda mais nessa modernidade de hoje, as dificuldades. Elas simplesmente pairam sobre nossas cabeças como martelo em prego, ficamos ali, matutando a solução mais óbvia ou coerente, sem mesmo procurar o que realmente é, como se diz por aí, “da – se um jeito...”.

A dificuldade surge mediante a uma necessidade, a palavra já avisa, precisando de algo, ela aparece, e não sem mais nem menos, ela esta ali sempre pra empatar nosso tempo, que sempre é mais precioso que a própria vida que vivemos, um redundante pensamento, mas real como uma topada no rodapé da porta da sala. Nada mais que a pura verdade.

Vos digo que essa, será a forma mais real de transpor o que realmente acontece conosco. E ponto.

OBS.: O computador do qual redijo a mera iniciação textual acabara de travar. Acho que é a tal da modernidade.

A SAGA DE UM HOMEM ATRASADO E UM FERRO DE PASSAR ROUPAS A VAPOR

Ernesto era assim, meio calculista, não deixava um segundo se quer de verificar suas coisas, era apegado demais à cronologia pessoal, a pontualidade humana, que na maioria das pessoas é falha, em Ernesto era atípico, não lhe faltava se quer um segundo de milésimo de sua hora. Rígido, adorava ver se seus “amigos” de trabalho chegavam na hora certa, gerente de uma bomboniére tradicional paulistana, começava seu dia vendo se seus funcionários defendiam o mesmo protocolo do qual seguia. Mas como nem todos tem essa preocupação de estar no seu horário, Ernesto fazia questão de verificar por seus esquecidos tempos de chegada:

- Bom Dia Almeida, me parece que se atrasou um pouco não é? – ele de butuca olhando acima de seus óculos redondos.

- Mas são 8hs em ponto Ernesto! Se eu atrasei, me desculpe, eu estava tentando passar minha roupa, e o ferro de casa não ajudou muito, sabe como é – Almeida olhando para o relógio da parede da entrada do estabelecimento e tentando justificar-se.

- Errado querido, são exatas 8hs e 30, 31, 32, 33 34 segundos terrestres. Estas não são desculpas convincentes – Ernesto ao verificar um de seus 3 relógios utilizado e cronometrados com o horário de Brasília.

Ernesto Temporal, não de tempestade, e sim do tempo mesmo, como era chamado, carregava além de seus relógios de pulso de ponteiro, aquele do tempo da Zagaia, aqueles que se dá corda ao sacudir, armazenava um valiosíssimo e raro relógio de bolso, banhado a prata e guardado em seu bolso direito, algemado a uma corrente também de prata, todo brilhoso, exibia a todos aqueles que o admiravam, se é que era admirado, aquele ser antiquado, era a imagem repassada.

Certa vez Ernesto acordara um tanto atrasado, considerando o seu fanatismo pelo tempo, eram exatos 4 minutos e 28 centésimos de segundos, levantou-se sem demora e como de tradição, recolhia suas calças e camisas já pré estabelecidas na noite anterior, seguindo atos familiares, e encaminhava-se a varanda onde poderia utilizar o ferro de passar, o do qual normalmente sua senhora, Dona Abigail utilizava nas tardes de tarefas do lar, mas naquela manhã, algo errado aconteceu, a sua senhora havia saído mais cedo para buscar o pão e o leite, e Ernesto deparou-se com uma tarefa difícil demais, “passar suas roupas”. A última vez que havia passado uma roupa, os ferros de passar eram de aço maciço, que normalmente colocava-se brasa para esquentar, fazia tempo demais que Ernesto não utilizava o ferro de passar, que agora, eram elétricos e a vapor. Tomado por um medo incontrolável, Ernesto tomou coragem e começou a ler o manual do mesmo, ele o encontra – ra dentro da caixa, que estava na prateleira da área de serviços. Dona Abigail era organizada com suas coisas, era de família também. Ele folheou, folheou e folheou até pensar que sabia o necessário, e então:

- É bem simples, ligar na tomada, colocar a água e acionar a temperatura correta – a – a e pronto, roupas de algodão – ele, forçando os olhos para verificar se não havia feito besteira em questão a numeração.

E assim começou a passar as suas vestimentas, com toda a pressa do mundo já que estava mais atrasado por volta de 4 minutos e os seus centésimos, Ernesto mal sabia o que estava fazendo:

- Mas que porcaria! Essa droga começou a vazar água em tudo. – a roupa semi - molhada sobre a mesa de passar.

- Mas será o “Benedito” ? – esbravejando

E certo de que teria feito tudo correto, Ernesto continuou sua dura batalha com o ferro a vapor, que agora, já tinha lavado toda uma camisa de seda que Dona Abigail tinha lavado com todo cuidado, camisa da qual já estava desbotando, pois a temperatura do aparelho estava alta demais. Pobre Ernesto, sua camisa nova acabou de criar um novo buraco, só que no formato exato do ferro de passar, e o complicador daquilo acaba – ra de ganhar novos nomes:

- Isso não é de DEUS, não é possível que isso sirva pra algo, não agüento uma coisa dessas. – Ernesto mais bravo que tudo, só de cuecas, em pé, de frente e domado por aquele objeto mal elaborado:

- Este item não me convém, coisa do “Demô”, o “Belzebu” tem pacto com essa coisa, é invenção do capeta! ! ! - Ernesto sem nenhuma paciência.

Sem medir o tempo que já o tinha feito se atrasar, Ernesto arremessou o ferro de passar ao chão, e sem mais, o mesmo respondeu, voltou para os pés do arremessador, sem pudor, foi atingido pela ponta do objeto no pé esquerdo, e sem hesitar acertou o pé direito queimando sua superfície com pelos. Ernesto gritava, saiu aos pulinhos, e como se o ferro tomasse vida pelo ato aterrorizante, o velhote acabou esbarrando sobre o fio de alimentação de energia e o mesmo como num passe de mágica, se entrelaçou com os tornozelos e o arremessou ao chão e pronto, o gigante havia sido domado da forma mais vergonhosa. Na queda, Ernesto bateu com a cabeça ao solo, abrindo um “belo” corte em sua testa. Ernesto sentiu a dor e a vergonha da pressa em querer ser pontual. Deitado ele chorava como uma criança, com o peito para baixo viu passos cautelosos chegar até ele e uma poça pequena de sangue se formar sobre seus olhos, era Dona Abigail, que em mãos carregava o leite e o pão fresco da padaria da esquina debaixo, olha absorta a cena que aconteceu instantes antes de ela adentrar a casa:

- Ernesto meu bem, o que ta acontecendo aqui meu Jesus Cristo? – Dona Abigail correndo em direção ao corpo caído de um gigante adormecido.

- Minha velha, posso fazer-lhe uma pergunta? - ele levantando – se com o auxilio da indagada e verificando as avarias ainda não contabilizadas.

- Respondo após você se sentar e se vestir, pois você não esta com idade de moço que pode ficar desfilando sua caveira por ai. – ela contraindo os lábios para não rir.

Ernesto se vestiu, agora com uma roupa passada corretamente por sua senhora, e com o mesmo ferro que travou uma luta sangrenta. Fitando o vapor que saia de seus lados, Ernesto tomava um copo de café preto, engolia – o sem açúcar, pois sua doçura não era da melhores naquela manhã.

- Agora “Nesto”, pode me perguntar o que quiser, já que fiz seu curativo, você já tomou o seu café e está vestido adequadamente, faça a sua pergunta! – Dona Abigail, desligando e repousando o agressor de Ernesto.

-MULHER! Onde raios você comprou este maldito ferro de passar a vapor? Foi no quinto dos infernos?!