O DIA DE MEU PAI MORRER
POR CARLOS SENA
“Meu pai morreu porque era o dia dele”.
Essa expressão proferida pelo o filho do co-piloto do avião da NO AR espatifado no recife, no dia 23 de julho. Diante dessa frase, a gente fica convocada, não sei se pela espiritualidade, para refletir sobre a vida e a morte; sobre o dia de cada um “partir” para o outro lado da eternidade. Refletir também sobre o acaso, destino ou que outro nome tenha para identificarmos os fatos ou para justificarmos nossa pouca capacidade de inferir nesses assuntos. Certamente que há mistérios na vida que não nos são permitidos alcançar, talvez pela nossa condição de “pecadores”, de mortais, de “caminheiros” dessa existência rumo a outras que, conforme precisamos acreditar, nos espera em outras dimensões.
“MEU PAI MORREU PORQUE ERA O DIA DELE” – frase proferida pelo filho do co-piloto conforme nos referimos, considerando os seguintes fatos:
1 – Seu pai estaria de folga naquele dia da tragédia;
2 – Um colega da NO AR pediu para trocar de plantão com ele que aceitou;
3 – Na quarta-feira, dia da tragédia, o pai chega atrasado ao aeroporto, mas o avião estava em solo;
4 – A companhia NO AR, diante do atraso, colocou outro co-piloto para seguir no vôo;
5 – Quando o co-piloto posto pela companhia percebeu que seu colega chegara, saiu da aeronave e entregou o posto ao que foi vitimado pela tragédia, no caso, o pai do rapaz que deu a entrevista ao NE TV, no Recife.
Diante dessa seqüência de fatos, a gente fica meio “encafifada” diante do dito popular de que “A GENTE SÓ MORRE NO DIA”... “OU NA NOITE”, se quisermos levar a vida com certa dose de humor. A doutrina espírita, diante do que entendemos e considerando nossas limitações, tenta explicar tudo à luz da lógica de que “não existe acaso”, qualquer coisa de que “estava escrito”. Nesse mesmo víeis outros acontecimentos semelhantes já nos foram relatados, até com mais detalhes. O que nos deixa meio tontos é que o acaso não existindo teria que combinar a vida de todos os passageiros para uma mesma “partida”. Os dezesseis que faleceram tinham vidas completamente diferentes umas das outras; tinham objetivos completamente diferentes uns dos outros; tinham idades e formações intelectuais completamente diferentes umas das outras. Mas, tomando por base que não existe acaso e que tudo acontece com a permissão de Deus, temos que nos contentar na compreensão de que a espiritualidade trabalhou muito, fez serão, hora extra e tudo mais para juntar tantas pessoas diferentes no mesmo espaço. Não sendo assim fica difícil entender que a hora do piloto era aquela, pois se era só dele, como pode a vida dos outros ter entrado no “pacote”?
A igreja católica tem um mistério chamado SANTÍSSIMA TRINDADE, bastante divulgado em seus domínios e fora dele. Esse mistério se consolida em Deus enquanto pai, enquanto filho e enquanto espírito santo. A doutrina espírita tem seus cânones em que tudo acontece pela mão de Deus e defende a não existência do acaso, mas credita muitas coisas ao nosso livre arbítrio. Certamente os evangélicos têm outras considerações, os catimbozeiros outras, os pentecostais – esses sim, infinitas outras e regadas a preconceito e tudo mais, inclusive dinheiro na jogada.
“MEU PAI MORREU PORQUE ERA O DIA DELE” – foi este o entendimento do filho do co-piloto. Melhor este a nenhum, pois não podemos ter a vida de quem amamos ceifada tão abruptamente sem que nossa mente nos dê alguma justificativa, mesmo que momentâneas. De uma coisa a gente não pode tergiversar: “há mais mistérios entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia possa imaginar”... Acreditar em Deus é a nossa fonte de segurança para tudo que nos acontece e que nem sempre temos a sabedoria de compreender no momento do acontecimento. A vida é um pouco disto: há coisas que a gente entende na hora; há coisas que a gente entende daqui a pouco, mas há outras que só do outro lado da eternidade a gente talvez possa saber...