Bicho- de- pé
Gosto de estar sempre na praia, e me questiono, qual praia é inteiramente limpa se vivemos num mundo poluído. Banho de mar, areia branquinha, brisa e água de coco, compõem o cenário que adoro viver. Eu sou mar! Digo sempre. Águas mornas que delícia, cuidado! Há águas vivas no mar. Que lindas, com suas cores diversas, corro para fotografar. Não tenham medo, não vou comê-las, ainda como peixe e camarão, mas logo vou deixar, prefiro os vegetais. As pessoas saem da água com medo das queimaduras, predadores avançam, sim, dois rapazes pegam-nas para matar. É triste, nem se pode observar o espetáculo da natureza. Saio do mar e peço uma água de coco para aliviar a tristeza, pipas ao vendo, feito pássaros chineses. Observo-as por horas a sombra de uma caiçara, o tempo passa: amendoins, picolés, ovo de codorna, mas que menu, preencheu o meu dia hoje, penso. Resolvo relaxar, e essa mania de sentir profundamente as coisas, me fazia cavar mais e mais com os pés, buscando sentir a terra fria, sem saber da invasão que estava provocando. De repente uma coceira boa no dedão do pé deixa pra lá, volto pra casa. Nossa, estou com uma bolha no dedo com um pontinho preto! Um amigo grita da rede, tira é bicho-de-pé. De quem? Do cajueiro. Mas eu adoro caju, seu suco gostoso, doce em calda, passas, e as castanhas então, não pode ser. Ele é muito bom, o que tem haver com o bicho, penso eu. Sei lá, mas os nativos tiram-no a cru. O que, o caju? Não, o bicho, seu bicho. O outro grita, pega a agulha! Vai costurar? Não, vou extrair. Passa o sabão amarelo, grita outro. É complicado, pega o martelo. Não preciso, eu não quero quebrar meu dedo! Desculpe é o alicate, e assim sacou uma bolsa cheia de perolas, oh não, de larvas, que alívio, retirou o bicho. Peguei-o em meio ao algodão e tive com ele uma conversa séria. Vê se faz amizade com alguém do seu tamanho, retruquei. O predador de suas amigas não sou eu. Ufa! Quase voltava pra casa, com você hospedado em mim. Fique no seu território, não avance o meu. Todos riram. Alguém falou, endoidou de vez. Olha só o que a natureza te fez.