O AMOR NA ERA DA MODERNIDADE
POR CARLOS SENA
A modernidade não moderniza o amor. Moderniza, por exemplo, as formas de nos comunicarmos com quem amamos: e-mail, redes sociais, celulares, etc. Moderniza, por exemplo, as formas de nos encontrarmos velozmente com a pessoa amada: avião, luxuosos ônibus, jatinhos particulares, etc. Moderniza, por exemplo, as maneiras de prepararmos refeições rápidas para ficarmos com mais tempo sobrando para desfrute de quem amamos: fornos de micro-ondas, alimentos congelados, freezers, geláguas, tostador de pão, cafeteiras, comida por telefone (delivere), etc. Moderniza, por exemplo, as diversões que escolhemos para lazer junto de quem amamos: TV LED, FUL HD e com conversor e 3D, IPOD, IPED, PALM, Jogos no computador, Karaokê, etc., etc.
Muito mais a modernidade, via tecnologia sofisticada, nos permite utilizar em função do bem estar físico e emocional, como um bom banho quente, os cartões de crédito, as viagens internacionais, o controle remoto, a nanotecnologia, dentre tantas outras. Tudo se vende pronto. A internet virou um grande supermercado. O próprio sexo pode acontecer na virtualidade. O tradicional livro de papel divide mercado com o E-BOOK. O GOOGLE virou o grande GURU da humanidade – “tudo está nele e todos lhe consulta”.
EU QUERO VER A MODERNIDADE E TODA SUA TECNOLOGIA substituírem um olhar apaixonado; um beijo de língua daqueles que a gente pensa que vai aos céus em vida. Eu quero ver substituírem uma simples PISCADELA DE OLHO da pessoa que gostamos. Os gestos simples de colocar a mesa para o café da manhã, de dar um bom dia na cama, de olhar fixo no olho e dizer “te adoro”, de perguntar se tomou os remédios (?)... Um café na cama, o jeito de dormir de conchinha, a posição preferida à mesa das refeições, um cacoete do outro que a gente adora, enfim, uma mania, um cuidado, uma idiossincrasia que tem pra nós extremos significados, AH EU QUERO VER A MODERNIDADE INVENTAR!
Não nos percamos no tempo em busca de emoções extraordinárias que supostamente o conforto material pode nos proporcionar. Pode até acontecer grandes amores no bojo da riqueza e dos prazeres que a sociedade de consumo proporciona e o contrario. Portanto, quem quiser sair da solidão, terá que optar por encontrar um amor à moda antiga – forma legítima não por ser antiga, mas por trazer consigo a vida como ela é; por nutrir-se de gestos simples de carinho e afeto que a modernidade subestima, porque talvez se nutra das relações no formato do “FICAR”. Pode ser que o amor que o FICAR proporcione, por ser tão passageiro, despersonalize mais os humanos, posto que, vulneráveis, consomem mais; vulneráveis, se perdem mais em si e, com isto, viram massa de manobra da sociedade de consumo tentando repaginar o amor como “piegas, démodé, brega, cafona”. Um dia as pessoas perceberão que não se vive sem pequenos gestos do dia-a-dia de quem amamos, de uma rotina aparentemente sem graça, mas que tem toda graça do mundo no processo da construção da vida a dois. Muitos que trocaram de “amores” porque não souberam interpretar a rotina, só trocaram de problemas. Óbvio, fechar esse tema com a assertiva: não há ninguém perfeito. Não sendo isto nenhuma novidade, melhor beijar na boca, ser feliz por nada, pois se acontecer por tudo, será o nirvana que nos levará aos céus em vida.