CRONIQUETA PARA UM SÁBADO

 

Porque hoje é sábado, o feitiço nos enche o corpo e o corpo nos enche de pulsão. Porque hoje é sábado, alinho meu cavalo alado pelas paragens, quem sabe, da ilusão. Porque hoje é sábado, massageio meu paladar para tomar um trago na taberna encantada do prazer que só a dois compensa. Porque hoje é sábado, a liturgia da vida se engalana como que querendo da própria vida a eternidade em si mesma. Porque hoje é sábado, preciso não precisar do politicamente correto, nem do socialmente estabelecido, principalmente porque hoje é sábado. Porque hoje é sábado, Baco não vai se reprimir com medo do bafômetro que a civilização inventou, até porque se não fosse sábado não seria tingida a dor.

Penso que Deus criou o mundo num sábado, senão não teria descansado no Domingo. Porém sendo hoje sábado, alinhavo a crônica que o amor que liberta; adoço a boca que só livre pode beijar, ensaio o aceno que os afagos necessitam para nos manter inteiros, vivos, mesmo quando não for sábado.