A fúria das galinhas

Eu tinha aproximadamente de seis pra sete anos que isso aconteceu. Eu morava numa usina onde meu pai trabalhava como mecânico; era meio rural, inclusive meu pai trabalhava com máquinas usadas na agricultura. Devido a esse contexto de vida rural, minha mãe criava galinhas. Certo dia, eu fui ao quintal e vi uma galinha comendo com seus filhotes. Achei uma graça todos aqueles pintinhos gordinhos no quintal e resolvi pegar um; abaixei-me e quando peguei o bichinho, sua mãe voou em cima de mim e bicou meus lábis com tanta fúria que tirou-me a pele dos lábios inferiores. Foi horrível, senti uma dor insuportável e parti correndo pra dentro de casa chorando e buscando o socorro de minha mãe. Fiquei furioso e decidi me vingar daquele ser insuportável. O momento ideal foi na hora que minha mãe estava assistindo a novela das seis. Fui ao quintal e a primeira coisa que avistei foi um cipó. Minha mentinha criminosa decidiu usá-lo como meu instrumento de vingança. Mirei o meu alvo se movimentando no meio do terreiro e fui com muita sede ao pote. Quando dei minha primeira investida, acertei um inocente pintinho que loga caiu no chão em amarga agonia. Isso fez-me sentir um arrependimento indescritível, mas o pior não foi isso; a mãe da vítima veio pra cima de mim com um desejo de vingança muito superior ao meu. Saí correndo num desespero que mesmo que eu narre poucos serão capazes de compreender. Entrei em casa e fechei a porta aliviado. Contar pra minha mãe? Jamais! Eu levaria a maior surra da minha vida! Mas olha só o que mais me admira até hoje: quase vinte minutos depois, eu tentei ir ao quintal e por três tentativas eu me surpreendi com a galinha ainda me esperando na porta da cozinha. Cada vez que eu abria um pouquinho só da porta, ela se armava pra me pegar. Por incrível que pareça, os animais também têm sentimentos...

Adeildo Levigade
Enviado por Adeildo Levigade em 06/07/2011
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