UM TEMPO MÁGICO...

Quando eu era adolescente uma das coisas que também fazia era me corresponder com garotas.

Do Brasil e Argentina. À época, ninguém sonhava com Facebook, Msn, Orkut, etc., ou mesmo com a rede mundial de computadores, mas os relacionamentos à distância existiam através das cartas.

As garotas e garotos escreviam para revistas, jornais, rádios anunciando o desejo de se corresponder com alguém e até davam suas preferências e pediam fotos.

Eu entrei naquela onda com meus 17,18 anos de idade e me lembro de algumas garotas do interior de São Paulo, Rio de Janeiro e uma da cidade de Rosário na Argentina, e seu nome era tão singular que nunca me esqueci.

Interessante é que havia romantismo naquilo tudo, pois além de capricharmos na cartinha, sempre colocávamos a folha de uma flor e sempre espalhávamos gotas de perfume para deixar a carta sedutora quando fosse aberta...

Era uma expectativa porque naqueles bons tempos os correios não eram lá essas coisas, as correspondências tinham que vencer distâncias através de estradas às quais muitas nem eram pavimentadas ainda. As que iam por via aérea tinham melhores chances de chegar rápido ao destino.

Ficava eu numa ansiedade para receber cartas desta ou daquela garota. Como eu cheguei a ter 15 correspondentes (um número alto para a época), estava praticamente toda semana recebendo cartas das meninas.

Também vivia a tirar fotos para enviar às amigas. Às vezes, me ligava mais nesta ou naquela garota.

Lembro daquela argentina que era muito bonita nas fotos, escrevia muito bem, suas cartas eram um primor. Ela escrevia bem em português. Eu tinha uma vontade imensa de ir à linda cidade de Rosário para conhecer a Leondina, esse era seu nome... Entretanto, como fazer para ir?...

E assim o tempo passava...

Entrementes, nos dias de hoje reflexionando sobre o passado, fico a indagar: “Porque será que, com tanta garota bonita na minha cidade, lindas ao meu redor, eu ficava me correspondendo com garotas de cidades longínquas as quais eu não teria muita chance de ver de imediato?”

Então, chego à conclusão de que, desde muito jovem, parece que eu buscava alguém que estivesse longe de mim, que eu não sabia onde estava... São coisas que não se pode explicar... Mistérios da vida... Mas a verdade é que, nessa busca inconsciente por alguém desconhecida e distante, eu fiquei mais de quatro longos anos me correspondendo com tantas...

Vendo hoje as facilidades através da internet, das redes sociais, onde todo mundo se relaciona com rapidez, posso observar que, apesar de tudo, as adoráveis cartinhas, cheias de romantismo e perfume, de fotos, letras desenhadas, marcas de beijos com batom, eram mais interessantes que os correios eletrônicos de hoje, porque elas traziam um pouco de quem as enviava e falavam ao coração de quem as recebiam e, era tudo de lindo num tempo de ingenuidade, mas de muita poesia e beleza que, por certo, nunca se apagará de minha memória porque vivi grandes emoções naquele período mágico de minha existência...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 03/07/2011
Reeditado em 16/10/2012
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