OS MEANDROS DA PAIXÃO
POR CARLOS SENA
Um amigo me perguntou se, do alto da minha maturidade, ainda me apaixonava. Fiquei mais preocupado com a pergunta do que com a resposta que teria que dar. Imediatamente me consertei por dentro e entendi o teor da pergunta pelo lado menos complexo. Sendo meu amigo ainda muito jovem, retornei no tempo aos meus tempos de extrema mocidade e então relaxei. Esbocei uma conversa em função da paixão enquanto inerente ao ser humano. Como tal, segue um pouco da lógica da sexualidade. Quando somos adolescentes, o menor estímulo sexual deixa as mocinhas molhadas e os adolescentes com as mãos nos bolsos. Tesão, esta talvez seja a correta expressão. Com o passar do tempo a gente vai ficando mais adequado aos acontecimentos e às mudanças que o corpo faz, inclusive na nossa libido. Na verdade eu estava querendo dizer que enquanto a gente viver a gente pode se apaixonar sim. De uma forma contida, administrável, mas paixão. Confesso que me enrolei todo no tear dessa “tese” quando eu mesmo não me vejo em paixões acomodadas, certinhas, bem comportadas. Refiz-me dos conceitos e retomei o tom da prosa colocando que o que muda não é a revolução que a paixão faz em nós. Paixão sem revolução não é paixão, mas sentimento de cumplicidade invertido. Tentei mostrá-lo que o que modifica mesmo é a forma de externarmos a nossa paixão por outrem. Dito diferente, o inferno interior – misto de prazer e medo, de liberdade e prisão, de luz e escuridão, são a mesma coisa que todo mundo sente em todas as idades.
Viver sem paixão não deve ser bom. Seja que tipo de paixão for. Seja em que idade for. Apaixonar-se talvez seja um dos mais legítimos diferenciais da espécie humana em relação aos animais irracionais. Deixar de viver uma grande paixão por medo do que vier depois dela é negar-se a si mesmo enquanto gente, pessoa, ser pensante. Afinal, sofremos sempre na vida independente das situações. Viver sem sofrimentos é utopia. Alcançar a grandeza de gostar da vida apesar do sofrimento, talvez seja o grande mote da felicidade. Portanto, amigo, finalizei, “paixão é paixão” em qualquer idade, em qualquer nação. Mais: paixão legítima não se submete aos rigores da nossas razões, senão não seria.