AS PERNAS CURTAS DA MENTIRA.

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POR CARLOS SENA


 

Qual o tamanho das pernas da mentira? Talvez as pernas da mentira tenham o tamanho das mãos daquele que seria a vitima delas. Qual o tamanho dos pés da mentira? Talvez o tamanho das estradas em que a vitima delas possa caminhar. Qual o tamanho do mentiroso? Talvez o tamanho da ilusão daquele a quem se imagina vitimar com mentiras.

Qual a relação da verdade com a mentira? A mentira origina-se na verdade e dela se subverte para construir o jogo das relações nem sempre corretas, mas quase sempre espúrias. Se pudéssemos construir uma linha imaginária no horizonte, esta seria a VERDADE metaforizada. A linha da mentira se perderia no finito permitindo que a VERDADE seguisse em frente como se tivesse vocação de se misturar com o horizonte e nele se convertesse.

A MENTIRA se estabelece no substrato das meias verdades que se disfarçam. A suposta vitima da mentira, geralmente assimila esse processo como se verdade fosse, talvez pela falta de elementos repetitivos de fatos, emoções e sentimentos que, não sendo compartilhados por ambos, resvala-se nas contradições que o cotidiano se encarrega de trazer à luz da verdade inteira. 

Há quem saiba mentir. Há quem não sabe mentir, mas imagina que todos acreditam no que ele diz. Há, ainda, aqueles que nem sabem mentir, nem sabem fingir que sabem e ainda subestimam a capacidade dos outros de serem inteligentes. Poderíamos dizer que os grandes mentirosos são, antes de tudo, grandes atores sociais. O texto deles é a vida em sua versão adaptada às ilusões dos mentirosos, pela quase totalidade de certeza que eles parecem ter acerca de que os outros, suas vitimas, sejam bobos, burros ou coisas semelhantes.

Um grande mentiroso tem seus méritos, se é que se possa assim dizer. Neste sentido, vejo o esse mentiroso de forma patológica – quero dizer: faz da sua vida uma mentira na lógica de que toda mentira várias vezes repetidas se torna verdade. Nesse campo patológico, estabelece-se, quase sempre, um estilo de vida em que mentir para sê-la um modo de vida e beira quase que a existência da pessoa que a isto alimenta. Diferente dos mentirosos de plantão em que a VERDADE logo aparece para destronar o suposto poder estabelecida com bases líquidas de meias verdades.

Quando a mentira destrona o poder dos mentirosos – daqueles para quem mentir no cotidiano vira modo de vida. Quando a VERDADE se entroniza, tem a sensação de que o suposto rei, supostamente vestido, não está supostamente NU. Aquele que for a vítima das relações mentirosas, especialmente no campo afetivo, amoroso, sofre apesar de tudo. A seu contentamento existe a certeza de que tudo passa; de que é sempre mais feliz quem mais amou; de que Deus ajuda os que trilham a linha da verdade dando forças para sair das ciladas que a mentira patrocina.

Aos mentirosos é como se lhes fossem reservadas as durezas da vida com juros e correção, sob o patrocínio da VERDADE. É certo que o ser humano não se acostuma com a enganação, com a traição, com a desfaçatez. É certo, porém, que a LEI DO RETORNO se estabelece mais cedo ou mais tarde. Ela, a Lei do Retorno, finca-se nos princípios da sabedoria na qual a verdade absoluta jamais se relativiza. Esse é o nosso conforto. Até que a VERDADE seja absoluta e que o homem JAMAIS relativize o amor, o afeto, o perdão.