Por que presente?
Estive pensando em nosso hábito de trocar presentes no Natal e todas aquelas explicações sobre Reis Magos, Papai Noel e o Espírito Natalino, que ouvimos desde criança.
Para mim, o presente recebido no Natal é outro, que não acompanha o movimento frenético do comércio, nem vem embrulhado em papel brilhante.
E presentes não se ganham só nessa época. São pra muita ocasião especial.
Nascimento, presente. Aniversário, presente. Formatura, presente. Casamento, presente.
Até ao abandonar esta vida, recebemos flores como tradução de sentimento incapaz de acabar-se.
Penso que a palavra “presente” exista pelo fato de que quem o recebe está mesmo presente naquele que o oferece.
Ao nos encontrarmos, nos gostarmos e nos reconhecermos pela vida como família, amigos, amantes, companheiros, deixamos uns dentro dos outros pedaços de nós.
Um gesto, um gosto, um pensamento, uma mania, a cor que mais gostamos, a ponto de no outro nos fazemos presentes como parte tão essencial, que é como se sempre tivéssemos estado ali.
Por isso sabemos o que oferecer: cheiro, tamanho, cor, função, a emoção que esperamos despertar. Porque de tão dentro do outro, nos adivinhamos.
De tanto que você sou eu. De tanto que eu sou você.
Compartilhamos o que deixamos e recebemos, uns dos outros, como quem procurasse completar, com incontida euforia, a si próprios.
Então, meus amados, feliz presente de Natal, de aniversário, de formatura...
Feliz de mim, que só desejo vocês, presentes!
E vou avisando a todos que não aceito lembrancinhas. Quero presentes inteiros, com tudo que é meu de direito!
Com tudo que há de vocês em mim e tudo que há de mim em vocês.
Jane Simões
Dezembro/2010