Aos quarenta e....
Nasci em 27 de junho, às 23 horas, em casa na rua Regina de Moraes 111 ou Cova da onça como os moradores do bairro até hoje a chamam.
Com certeza herdei um pouco da quietude daquele lugar, daquela paz de ouvir murmúrios de riachos, cantos de bem-te-vis e outros tão sutis que nunca pude definir.
A casa onde nasci ainda existe. Morei pouco tempo nela, mas adorava passear por aquela rua sem saída que terminava sob um pedaço lindo de mata atlântica. Cansei de ficar na ponta dos pés tentando ver o que havia por trás das cercas vivas que encobriam casas abastadas de gente que nunca conheci. Era um lugar perfeito para as minhas crises adolescentes, meu ninho.
Quando eu não me entendia, inconscientemente, procurava a minha rua, o meu início.
Passaram-se mais anos do que eu gostaria; a rua agora está cheia de condomínios, entretanto meu olhar sobre ela não mudou. Ainda me vejo com chinelos de dedo caminhando por seu solo barrento, desnivelado, cheio de pedrinhas, misturando sonhos e realidade.
Turbulência cheia de vida!
Hoje, a rua em que moro é asfaltada. As pedras e os desníveis são outros, porém minha janela abre-se para dois grandes sítios cheios de pássaros, árvores, plantas e muitos barulhinhos que ainda não sei definir.
O tempo passou, mas felizmente, presenteou-me com a sabedoria dos anos.
Paz cheia de vida!