"Cada um enxerga o meio-dia da porta de sua casa"
Engraçado como as pessoas falam que "antigamente tudo era melhor". É capaz até que não fosse, mas elas dizem isso. O locus da nostalgia é o passado. O passado será sempre o lugar perfeito para muitas pessoas.
Por que o passado? O novo não é tão bom assim? Depende. Talvez no presente as coisas não sejam tão boas assim para determinada pessoa, enquanto para outra sim.
Vou dar um exemplo: existia uma senhora que se lembrava dos tempos áureos de Manaus, antes do fim da economia da borracha, onde tudo era belo. No entanto, em uma entrevista feita por um historiador local á um morador de uma coleção de palafitas que ficou conhecida como Cidade Flutuante, a vida era dura.
Isso me lembra um provérbio africano: cada um enxerga o meio-dia da porta da sua casa. Ou seja, por conta de uma série de fatores, as pessoas podem enxergar um mesmo momento de várias formas.
A maioria dos pesquisadores e intelectuais que perseguiam o retorno á Belle Epóque manauara não chegaram a viver esse momento, nasceram e foram criados em um momento posterior (caso de Arthur Cézar Ferreira Reis, Jefferson Péres, etc.), ou seja, eles tinham uma visão desse período que lhes foi passada por pessoas que puderam realmente usufruir dos luxos dessa época.
Por isso, pesquisar em história é tão complicado. O historiador tem que detectar a visão de quem escreveu a fonte que ele está pesquisando. O historiador fala de história usando visões de outros. Um estudo que pretende ser abrangente usa o máximo de visões possíveis (é o que chamamos de "cruzar as fontes"). É provável que ao fim de seu trabalho uma nova visão apareça: a sua própria.