Uma tarde na Praça da República

Caía uma chuva fina, bem fina, quando saí do trabalho. Era início de tarde e eu estava na mais completa falta do que fazer, resolvi então, terminar de ler "O Ladrão de Estudava Espinosa" na Praça da República.

Não obstante ao chuvisco, subi a Assis de Vasconcelos na maior calma e tranquilidade, sem um pingo de pressa. Ao cruzar a rua Osvaldo Cruz, pensei em sentar ou no banco onde, uma vez, um amigo me encontrou a ler "Memórias de um Cigano" ou então na borda externa de um coreto, local onde habitualmente degustamos algumas sangrias. Nem um nem outro, a chuva ameaçava ficar forte e eu optei por ficar dentro de um coreto próximo ao lago circular (Foto).

Parêntesis

(Engraçado... o Yoshi tem duas fotos quase idênticas sobre uma pedra ao lado desse coreto, uma com uns cinco meses e outra com uns cinco anos.)

Fim do parêntesis

Devia ser o dia de aparar a grama da praça, pois uma quase força-tarefa da prefeitura estava a "tratar" da grama e o barulho das máquinas de cortar era constante, mas não tão irritante que me pusesse fora de onde estava. O cheiro de grama cortada molhada era bem forte e, de certa forma, agradável.

Pois bem, sentei-me do melhor modo possível, abri o livro na página marcada e entreti-me a olhar os transeuntes na praça.

Logo que sentei, meu olhar foi diretamente a um casal que seria, digamos, nem tão diferente assim nos dias de hoje: a menina aparentava uns 16/17 anos, era morena, baixa, cabelos levemente encaracolados, de uma beleza tipicamente amazônica, bem como a minha visão de Tereza, só que com a metade da idade; a outra menina, era um tipo normal, branca, pouco mais alta que a outra, cabelo bem enrolado, aparentava ter uns dois anos a mais. Eu as observava caminhar pela praça de mãos dadas quando elas se beijaram. De súbito, todos os olhares se dirigiram à ambas, como se fosse alguns espetáculo público. Lembrei do trecho daquela música do Engenheiros do Hawaii:

"[...] todos foram tão cretinos / quando elas se beijaram [...]"

Elas deram uma volta e subiram no coreto em que eu lia, se abraçaram do lado oposto ao que eu estava, eu olhei e continuei a ler. Depois disso eu me abstive das observações e fiquei na expectância de que Bernard Rhodenbarr descobrisse logo quem eram os assassinos de Abel Crowe e Wanda Colcannon.

Esporadicamente olhava a praça (e pro casal próximo). Elas conversavam abraçadas e entre carícias, mas eu não consegui ouví-las e, sempre que alguém parava pra olhá-las, elas se beijavam. Vi alguns elementos que, tanto poderiam ser turistas quanto maconheiros, ou ambos, dado que não são características excludentes. Vi um casal hétero de meia idade e, à distância, a roupa da mulher parecia um uniforme de oficial do Corpo de Bombeiros, mas não era. Um velho com cara de viciado que me perguntou se eu conhecia o "Careca". Mulheres que poderiam ser prostitutas, ou que simplesmente se vestissem mal, não que prostitutas necessariamente se vistam mal. Outro casal em um banco ao longe e que eu poderia jurar que conhecia a garota. Além de uma infinidade de pessoas que Dostoiévski chamaria de "gente comum".

Quando Bernie, bem ao estilo Sherlock Holmes, desvendou os assassinatos, e deu-se o desfecho do livro, levantei-me, assinei a primeira folha do livro e pus a data "16/02/11" e atravessei a praça. Já era fim de tarde e pude ver um belo lustre no hall de entrada do Teatro da Paz.

Dei alguns passos e a praça tinha terminado, mais alguns minutos e a tarde também...

Magno Brito e Silva
Enviado por Magno Brito e Silva em 21/06/2011
Código do texto: T3048285
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