Caminhadas
Caminhar é sempre um ótimo exercício tanto para o corpo quanto para a mente. Eu, particularmente gosto de caminhar para exercitar de preferência a mente, pois dos mirrados textos que já escrevi alguns deles tiveram sua gênese numa dessas caminhadas. E este é um deles. Tive a idéia de escrevê-lo quando caminhava hoje de manhã até a feira da Abadia.
Enquanto andava vinha observando as casas pelo caminho. Vi uma que tinha dois belos carros importados na garagem e parecia a sede de alguma empresa de consultoria, escritório de advocacia ou consultório médico. Mas era casa residencial mesmo, pois não havia faixa ou letreiro ou qualquer outra informação indicando o funcionamento de uma firma. Imaginei tratar-se de uma empresa porque pessoas jurídicas em geral são mais ricas que pessoas físicas.
Então me veio o questionamento: por que as pessoas jurídicas são mais ricas que as pessoas físicas? E logo em seguida a resposta: porque a mercadoria vendida pelas empresas (produtos, prestação de serviço, etc.) tem mais valor (ou é melhor remunerada) do que a mercadoria vendida pelas pessoas físicas (mão-de-obra).
Daí me veio algumas reflexões. Ninguém vive (digo vive e não sobrevive!) no mundo de hoje sem comercializar algo. E comercializa-se porque se precisa de dinheiro, pois sem o famigerado dito cujo não se pode fazer nada, ou quase nada. Para ter boa saúde: dinheiro; desfrutar de bens culturais: dinheiro; uma boa educação custa muito dinheiro e por aí vai. Então vivemos desvairados em busca do dinheiro, quanto mais, melhor, não importa se a busca pelos cobres nos torna calculistas insensíveis, ou se não sobra tempo para filhos, esposas, amigos, cultura, livros, etc.
Vivemos num tempo em que as pessoas andam deslumbradas com o desenvolvimento tecnológico e científico. Diz-se que vivemos tempos pós-modernos. De fato esse desenvolvimento traz uma gama de benefícios para a humanidade. Estamos vivendo mais, em comparação com os nossos avós, nos comunicamos com muita facilidade e eficiência. É inegável que esse desenvolvimento nos traz muitos benefícios. Porém para os que podem pagar.
Outra reflexão que fiz a partir da analise daquela casa foi que nas sociedades primitivas as pessoas não necessitavam comercializar algo para viver. As sociedades indígenas das Américas, anteriores à chegada dos europeus viviam em perfeito equilíbrio. Não viviam o estresse da falta de tempo, não existiam ricos e pobres, viviam em contato direto com a natureza. Mas algum deslumbrado com as maravilhas da pós-modernidade pode argumentar que os primitivos não desfrutavam de toda essa parafernália tecnológica que dispomos hoje e que facilitam nossa vida. Não sabe o ignóbil que as sociedades primitivas também não tinham necessidade destas coisas e mesmo assim eram menos vazias do que as sociedades atuais.
Não me arriscarei a dizer que os índios viviam melhor que nós, apenas digo que eles não sofriam com doenças psicossomáticas como sofremos hoje; eles não matavam seus semelhantes por nada como fazemos atualmente, não deixavam suas crianças abandonadas na selva, o trabalho não os consumia dia a dia, ao contrario desfrutavam momentos de lazer, viviam em contato também com o lado transcendental do ser humano, viviam em relativa paz. Também não me aventuro a dizer que deveríamos voltar a viver como os povos primitivos, mas penso que um pouco de tranqüilidade, paz, harmonia, espiritualidade, enfim, humanidade não nos faria mal nenhum.