MATADORES
Lá pelos anos 40 a pistolagem corria solta. Os matadores profissionais e justiceiros eram figuras aterrorizantes nos distantes rincões de Minas Gerais. A cidade de Mutum tinha fama de gente brava, diziam: “Se um cara ofendesse a mãe do outro de manhã, na certa aconteceria um velório à noite”.
Num dia de missa, um desses perigosos matadores assistia ao Santo Ofício. Era um cara alto, com uma enorme costeleta e um agressivo bigode, geralmente uma marca dos temidos pistoleiros. Ao terminar a missa, o mal-encarado homem postou-se na porta da igreja para matar o padre e o sacristão. Alguns mais corajosos e jeitosos foram demovê-lo daquela ideia, mas o pistoleiro estava irredutível, pois afirmava que o padre e o sacristão provocaram-no durante a missa. Tudo não passava de um mal-entendido. Naquela época a missa era celebrada em latim. O padre pronunciava “dominus vobiscum!”. O sacristão respondia: “Et Spiritu tuo!”. E o pistoleiro entendia: “De onde é esta bisca?” “É de Mutum!”.
Felizmente, depois de muita explicação o pistoleiro foi embora, deixando o padre e Mutum em paz.