O MUNDO FICOU MAIS INTELIGENTE

José Saramago, o maior escritor contemporâneo da língua portuguesa, morreu em sua casa nas Ilhas Canárias. Nasceu em Portugal, no ano de 1922, tendo uma infância pobre, fato que sempre ressaltou como de extrema importância na formação da sua literatura. Perguntado em uma entrevista sobre a sua infância, respondeu que mesmo se pudesse escolher uma outra, com menos pobreza, escolheria viver a sua própria história, pois esta lhe deu subsídios para escrever seus livros.

Uma literatura escrita em língua portuguesa que atravessou as fronteiras de Portugal para todas as partes do mundo e que fez com que Saramago recebesse em 1998 o Prêmio Nobel de Literatura, até então inédito como premiação para escritores de língua portuguesa.

Num período marcado pela ditadura de Salazar, que durou 41 anos, não deixou que isto afetasse sua expressão artística. Viu todas as transformações que o mundo passou no Século XX e soube traduzir isso na sua literatura de forma brilhante, escrevendo livros que chocavam por conta dos inusitados temas, como a humanização feita de Jesus Cristo no seu livro O evangelho segundo Jesus Cristo, onde concebe um Cristo que ama e tem problemas existenciais como qualquer mortal. Por conta desse livro Saramago foi acusado pela Igreja Católica de ateísmo e de fazer uma leitura tendenciosa dos evangelhos. Sofreu vários ataques do clero, principalmente o português, sendo Portugal um país notadamente católico.

Além de grande escritor Saramago era um homem de forte posicionamento político que defendia suas idéias e que tinha uma noção clara dos problemas do nosso tempo. Seu livro Ensaio sobre a Cegueira, (que virou um filme dirigido por Fernando Meirelles) uma de suas obras mais conhecidas, é uma amostra de como, por meio da cegueira branca que acomete a população de uma cidade, retrata a falta de solidariedade entre os seres humanos e a cegueira social em que vivemos. Politicamente era comunista convicto, religião não tinha, pois achava que a religião era responsável pelo atraso da humanidade. Era um crítico ferrenho do catolicismo, o que ocasionou diversos choques com a Igreja. Saramago foi um homem que não compartilhava do senso comum, um homem pessimista que disse durante uma de suas entrevistas que: “O otimista, ou é estúpido, ou insensível ou milionário", provando dessa maneira ter uma grande sensibilidade para com os problemas sociais.

Não devemos lamentar a morte de Saramago, pois ele deixou um grande legado para a humanidade, ele se foi de forma serena, viveu fazendo o que amava, perto dos seus livros, escrevendo história que não serviram apenas para encantar a humanidade e sim pra fazê-la refletir sobre suas próprias mazelas. Nada mais perturbador do que o livro Ensaio sobre a Cegueira (estou falando dele, pois foi dos que li o que mais me impactou). Quando estava fazendo a leitura desse livro me sentia completamente atordoada com o que acontecia com os personagens, Saramago faz uma narração tão brilhante da cegueira branca que eu tinha medo de ficar cega também, tamanho era o envolvimento que ele conseguia passar para os seus leitores.

Com o impacto de sua morte foram muitas as opiniões de diversas personalidades, uma delas, o diretor Fernando Meirelles, disse que com a morte de Saramago o mundo estava mais burro, no que discordo, acho que a sua morte servirá para avivar ainda mais o interesse dos mais jovens pela literatura, portanto o mundo ficou mais inteligente com José Saramago. Morreu um mestre da literatura. Sua obra eternizará um mundo que nós conhecemos em sua pequena eternidade.

Nadja Claudino
Enviado por Nadja Claudino em 19/06/2011
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