Copa dos milhões.
Africa berço dos meus pais.
Tenho assistido com certa apreensão a nossa desorganização para receber as efetivas obras que se fazem necessárias para a Copa do Mundo de Futebol em 2014 com sedes espalhadas politicamente pelas capitais. Nesta angustia não tem como deixar de olhar para o retrovisor e ver a mãe África, na sua triste realidade pós os eventos da referida copa mostrando as vísceras de uma nação recheada de problemas sociais que parecem foram cobertos ou colocados debaixo dos tapetes vermelhos por onde passaram turistas de todas as partes do mundo inclusive daqui tocando suas Vuvuzelas multicoloridas e chatas, que se calaram com a apresentação ridícula da anfitriã aliada à inoperância da seleção brasileira que esperava conquistar a simpatia daquela nação, como fizera em Guadalajara no México em 1970. Ah, que saudade daqueles canarinhos!
Sinto que a África está a nos cutucar com alguma arma de uma tribo abandonada num canto daquele continente como a querer nos mostrar das mentiras das falcatruas que se praticam para geração e captação de recursos financeiros para edificação de verdadeiras obras de arte da edificação moderna que hoje lá na mãe África está obsoleta, enquanto o povo continua no processo desumano vivendo no submundo relegado a todo tipo de doença e fome daquela pobre gente sofrida que nem mesmo pode assistir aos jogos nos campos onde explorados foram mãos de obra barata e descartada. África é aqui caro leitor. A mesma falta de transparência que se viu por lá estará presente aqui, quando o tempo encurtar e as obras se mostrarem atrasadas como sempre acontecem nestas construções de imensas e belas arenas para o esporte bretão.
Como adepto deste esporte confesso que sonhava com uma edição desta copa no Brasil. Mas com o tempo e a dimensão que esta festa vem tomando ao longo do tempo com cada país gastando milhões no sentido de superar o anterior. E assim conhecendo como funcionam as coisas no Brasil sem a mínima transparência passei a não desejar mais esta festa suprema do futebol. Não porque ainda vejo o analfabetismo vergonhoso pela falta de recursos na educação dos menos favorecidos. Não porque de fome ainda se morre neste país. Uma violência que se alastra sem freio nem comando, muitas vezes por aqueles que deveriam fazer a segurança. Digo não por ainda saber da vergonhosa presença de trabalho escravo e de menores explorados muitas vezes por políticos e donos de grandes terras. Morre lentamente e continuamente este sonho e nasce o medo a desconfiança.
Assisti a demolição implosiva do estádio em Salvador para a promessa de uma arena moderna com as melhores condições de acesso e higiene ao torcedor segundo um estatuto feito para este. Mas o custo deste projeto a gente nunca vai saber o real e já se especula o aditivo que teria sido aprovado e assim imaginem por todas as capitais onde estão erigindo estas arenas. Enquanto isso ao lado da nova arena Salvador encontra-se a mais lenta e abusiva obra de metrô que se tem historia no mundo se arrastando por mais de 12 anos para um trecho de seis quilômetros onde o projeto inicial previa quatorze. E pasmem o custo desta obra segundo cálculos daria para construir três vezes mais o já feito. O que já foi matéria pejorativa num programa de televisão em âmbito nacional.
É triste rever a África sem festa, sem brilho. Com as Vuvuzelas estocadas caladas nas prateleiras, agora o som que se ouve é da barriga daqueles meninos correndo num improvisado e lamacento campo, correndo e chutando algo que se parece uma bola, mas não é, pois a misteriosa bola Jabulani virou uma peça de museu da Copa que se fez para o mundo e não para eles. Assim penso que o Brasil é a África em nova edição. Mas Caetano Veloso já disse que o Haiti é aqui e nada mudou...
E ainda vamos fazer a mais linda copa do mundo?
Creio que sim, mas para quem e a que custo?
Ah, Africa ouço tambem a voz dos seus lamentos.
Toninho
13/06/2011.
Observação:
Em junho de 2009, quase dois anos após o Pan, o Tribunal de Contas da União identificou um superfaturamento de 2,74 milhões de reais no serviço de hotelaria da Vila Pan-Americana, e três meses depois divulgou o relatório final de acompanhamento dos Jogos, em que criticou os gastos e a gestão do dinheiro no Pan. Dois dias depois, o CO-RIO rebateu as críticas, classificando como "indevidas" as comparações dos custos dos atletas na Vila com o custo de uma hospedagem comum em hotel, devido à existência de serviços específicos para este tipo de acomodação (alimentação 24 horas por dia, segurança e transporte).O ministro dos esportes Orlando Silva Júnior também defendeu os gastos federais, sem os quais, segundo ele, a organização do Pan seria um vexame. Em outubro de 2009, o TCU condenou Ricardo Leyser, membro do Comitê da Candidatura do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos de Verão de 2016, a devolver mais de 18 milhões de reais aos cofres públicos devido à suspeita de superfaturamento em gastos no Pan. (Fonte Wikipedia)