A AMIZADE A RAZÃO E O DINHEIRO
Houve uma época árdua, pela qual todos nós brasileiros passamos, tempos em que a inflação atingiu os mais altos patamares. Desta como de todas as outras vezes, na tentativa de soluções miraculosas por coincidência os governantes lançaram um novo plano econômico. Graças a uma das medidas adotadas no plano em questão. O que fosse comprado a prazo que por sua vez trazia embutido um certo percentual de juros, por ocasião do pagamento teria a deflação, o que implicava em ser devolvido ao comprador um certo percentual da quantia paga por inflação futura.
Nesta época fiz compra em um supermercado de um amigo, conhecido de outras datas. No cheque de pagamento o comerciante havia aplicado os juros que lhe eram convenientes, até ai tudo bem.
Quando veio a deflação, como todo cheque pré-datado teria por lei que ter sua data trocada e descontado o valor de inflação contido, o comerciante veio a mim, pedir que efetuasse a troca do cheque para que ele pudesse descontá-lo no banco. Concordei em trocar o cheque, descontavam-se os juros pré-taxados e tudo ficaria resolvido, propus.
Como ninguém gosta de abrir mão de dinheiro, a não ser pra ganhar mais dinheiro, o meu amigo não achou legal minha proposta, disse que não esperava aquilo de mim, não havendo acordo, por fins pacíficos e por consideração a ele e sua família todos de ótima qualidade, preenchi o cheque com a quantia que lhe era conveniente, sem nenhum abatimento, ele ainda meio contrariado foi-se embora com a grana no bolso.
Eu, apesar de não ter entendido a atitude dele, fiquei na minha, dinheiro não é tudo...
Alguns minutos depois, via portador o prezado senhor me enviou um bilhete, dentro dele o valor da deflação, na época setenta reais. O bilhete continha os seguintes dizeres:
“Caro amigo, ai vai o seu troco, pela nossa amizade vou esquecer a razão!”
Depois de tudo, ele ainda se achava dono da verdade, como se fosse eu a ter feito a lei.
Ele poderia cobrar-me os juros, mas devolver-me a parte deflacionada, essa parte ele não entendia.
Como sempre tivera amizade com o tal personagem e realmente em consideração a boa amizade e convívio com seus familiares, após ler o bilhete e constatar o fato, nas costas do próprio bilhete escrevi e enviei de volta pelo mesmo portador que o trouxera, assim como veio, o bilhete com o dinheiro dentro, no qual lia-se:
“Pela nossa amizade, vou esquecer a razão e o dinheiro”.
Saulo Campos
Itabira MG