VOU ALI E VOLTO JÁ.
 
Ali é em Arantina, a cidade em que nasci. Estou indo logo cedo para ver os meus parentes e comigo levando outros.Ou outros vão me levando. Festa de família? Acho que a gente está transformando essa festa em Festa de Família embora esse não seja o motivo original. A Festa é do Botafogo e seus torcedores: O Feijão do Fogão. Toda a minha família é do Botafogo? Quase,quase...mas isso não importa, sendo ou não vamos todos alvinegramente comemorar.

Estou me preparando muito bem – pintei as unhas de branco e de branco e preto irei vestida. Sei que vou encarangar porque meu casaco de visitar regiões geladas é marrom, mas marrom não vou usar porque pode dar azar. Meus óculos também estão no jeito: para a noite tenho um branco, para o dia um preto e branco, escurão. Mas todos permitindo que eu veja bem tudo ao redor. São de grau por isso não tropeço nos degraus.

Arantina é assim, bem pequeninha, dá para apertar a mão de todo mundo mesmo não sendo época de eleição e eu candidata a nada. Nem três mil pessoas vivem lá, quase, quase, mas não chega a tanto. A última vez que foram contados eram 2823 habitantes, distribuídos em 89 km2. Faz um frio de gear, digo, gelar. Quando lá vivia e menina eu era, gostava de encher uma bacia de alumínio e deixá-la no sereno para que em gelo se transforma.se. No outro dia o prazer era quebrar esse gelo com algum objeto pontiagudo.

Todas   as cidades de Minas fazem parte de algum circuito turístico, mas não sei se algum turista já turistou em Arantina. Os que deixaram lá suas raízes sei que sempre estão por lá. Mas não tenho nenhuma dúvida que o circuito ao qual pertence Arantina tem o nome mais bonito: é o Circuito das Montanhas Mágicas de Minas ou da Mantiqueira.

Arantina tinha um estação e os trens passavam para lá e para cá e assim todo mundo que era de lá ia saindo em uma ou outra direção: alguns iam para Barra Mansa e outros,   em menor número, para Lavras.So meu pai quando de lá saiu fez diminuir o número de habitantes, deixando Arantina desfalcada de dez. Hoje a estação não funciona mais e nem os trens passam ali. Então o jeito é ir de carro para Juiz de Fora que atualmente é a capital de Arantina. 
 
Foi em volta da estação de Arantes que o povoado surgiu. Com ares de mocinha ganhou um nome feminino – Arantina. Agora já entrada em anos, uma senhora madura e cinquentona se prepara para o aniversário de meio século.

Indo e já voltando depois eu conto como é que foi. Se der jeito trago uma panela de feijão e alguns litros de caipirinha para brindar nossa festança, com cuidado para atravessar o pontilhão e não deixar tudo cair para alegria dos lambarizinhos.