É o Apocalipse.

Bai bai! Bye bye.

O prédio já estava quase pronto e não tinha nome. Para chamar a atenção sobre ele, resolveram fazer um concurso e premiar a quem desse a melhor sugestão de nome do mais moderno centro de tecnologia do mundo. Ultrapassou a um bilhão de nomes apresentados. Solução: sorteio. O nome que fosse sorteado, esse seria o nome do prédio. Chegou a hora. O evento foi transmitido via satélite para todo mundo, o autor do nome ganharia um prêmio em dinheiro e direito a dar também uma opção de funcionalidade no prédio. No mundo todo, as pessoas aguardavam para conhecer o felizardo. Num painel eletrônico os caracteres piscavam ate que uma linda garotinha de 3 anos, escolhida porque foi a que nasceu exatamente no dia, hora e minuto que foi assinado o projeto de construção, aperta o botão e pára.

BAI BAI?! BYE BYE – AUTOR: Jhon Shang do ... Brasil.

- Brasil? Que lugar é esse? – pergunta um jovem para o outro.

- É um país, estúpido.

- País estúpido ou você me chamou de estúpido.

- Fica na America do Sul, o lugar da floresta e de mulher nua.

- Mas o cara tem nome de americano.

- Chinês. Shang é chinês.

- Jhon é americano.

- Aê! Os caras vão achar o homem. Lá vai o big brother.

Jhon Shang tinha apelido de “yanomami”, 18 anos, baixo, musculoso, parecia um índio mas não tinha nada a ver. Sua aparência era o resultado de um romance entre uma mulata passista de escola de samba e um chinês dono de loja de produtos importados no Rio de Janeiro. A mãe dele acreditou que o chinês era americano de Chinatow em Nova York. Quando Jhon nasceu ela achou ele bonitinho, aí desistiu de dá-lo para alguém criar. Registrou sem pai, seu nome uma homenagem a quem ela achava importante como povo. Jhon cresceu na Babilônia, um morro perto da praia mais linda e famosa do mundo: Copacabana. Estudou em escola pública com louvor. Terminou o ensino médio. Trabalhava numa lanchonete e nunca se meteu em confusão. Namorava Mariane desde criancinha, uma lourinha, essa sim, era filha de americano e com uma história parecida com a sua. Jhon soube do concurso e resolveu participar com o nome Bai bai. Ele e Mariane eram amigos de Pedro, um gago que quando ficava nervoso gaguejava mais ainda.

- Pedro onde você mora?

- Ba Ba BA bilônia.

- Pára de encher o saco do moleque.

- Ma ma ma riane eu nã não ligo.

- Mas eu ligo. Não se brinca assim com os amigos.

- Fica engraçado.

Diante dele, na tela do computador estava a ficha para os dados do concurso para escolha do nome do prédio mais moderno do planeta.

- Vou botar “Bai bai”- bye bye em homenagem a você Pedro. Vamos lá que eu ganhe. Tem prêmio em dinheiro e viagem até lá.

- Será que pode levar mais alguém? Eu quero ir.

- E e eu tam também.

- Já deliraram demais. Vamos, caiam fora, meu intervalo acabou. Tem gente querendo comprar açaí.

O sorteio foi cedo. O Brasil estava com 3 horas de diferença de fuso horário. Jhon comia o pão de forma com margarina quando o celular tocou. Olhou o visor e viu um número enorme.

- Alô!

- Jhon Shang?

- Sim.

- @^&#$%*$@$$#%...

- Não estou entendendo.

- Jhon Shang. O senhor participou do sorteio para escolha do nome do prédio mais moderno do mundo?

- Sim.

- O nome “Bai bai – Bye bye foi o escolhido. Queremos que o senhor entre “no ar”para que o mundo todo o veja e conheça o escolhido.

- É brincadeira?!

- Não senhor, logo vai ver que não é.

Desligou.

- Caracas! Caô. Nem pediram meu endereço.

Continuou comendo. Toca novamente o celular. Outro número enorme.

- Senhor Jhon. Nos mande uma foto por e-mail de seu celular.

- Meu celular não tira foto nem passa e-mail.

- ok. Pode usar o computador agora? Tem câmera?

- Meu computador é antigo, vai demorar. – Não tem problema. Vamos tomar as providências daqui. Não saia daí, ok?

- Pra onde eu iria? To tomando café, é muito cedo.

Jhon liga para Mariane e Pedro e conta a história, os dois vão para casa dele. A mãe de Jhon está em Arraial do Cabo, uma cidade litorânea do estado do Rio de Janeiro.

Buzina de moto.

- Yanomami, tem uns caras lá em baixo procurando você. Gente fina. O que ocê tá metido?

- Ganhei o concurso pro nome do prédio chique lá do estrangeiro.

- Eu heim! Tá cheirando agora? Qualé cara? De onde saiu esse delírio?

- É verdade. Você não disse que tem gente me procurando? É pra dar entrevista.

- Então cara, é melhor descer. Não queremos gente metendo o bedelho na nossa área. Monta aqui.

- Péra aí um instantinho.

Jhon penteia os cabelos, se perfuma, calça tênis Nike falsificado e pega carona na moto. Lá em baixo 2 carrões o espera com fotos e apertos de mão. O motoqueiro só de olho. Vão para o quiosque no Leme.

Jhon Shang vira celebridade. Estava em todo tipo de mídia.

Depois de visitar o prédio, ele entrou na sala que ficava no topo. A vista é maravilhosa. Acostumado aos lindos visuais do Rio de Janeiro, chamar uma vista de maravilhosa é algo muito sério. Homens de várias nacionalidades estavam sentados em volta de uma mesa oval. Começa uma reunião. Jhon sabe que seu prêmio também incluía uma oportunidade. Como típico carioca, começa a falar de coisas que lhe vinham à mente.

- O mundo tem mais de 7 bilhões de pessoas e menos de 150 milhões de km2 de terra. É gente demais nessa terra. Nem toda terra tem gente e tem muita gente nas cidades. É muito lixo, poluição, falta comida pra todo mundo, tem gente doente encostada.

- Que é isso? Encostada.

- Dependendo de quem trabalha. Tem gente que nem sabe o que é curtir a natureza porque tem de trabalhar, ganhar dinheiro, pagar contas muitas vezes dos outros. Se diminuir o número de pessoas vai sobrar mais.

- É verdade. Como então diminuir o número de pessoas?

- 7 bilhões! Acabando com toda ganância e corrupção. Pena de morte pra essa cambada,

- E as pessoas encostadas? Se acabasse com elas também não ajudaria?

- Ia reduzir a um terço a humanidade.

- Se fosse fazer um jogo, onde você colocaria os vilões? Eles precisam sumir, não como desaparecem no virtual, mas concretamente.

- Procurava os lugares na terra em que o magma estivesse mais próximo da superfície, faria buracos e mandaria “pro inferno”. Não ia sobrar nada. E a terra ficaria limpa, linda. Sabe né, a natureza sempre se renova.

- Jhon Shang, o edifício vai se chamar BAIBAI – BYE BYE e esta sala terá seu nome.

Com o dinheiro Jhon Shang comprou um apartamento de cobertura, carro e se tornou sócio na lanchonete em que trabalhava, tudo na comunidade da Babilônia, no Rio de Janeiro.

Passado um tempo foram acontecendo coisas estranhas. Uma bactéria começou a dizimar pessoas sem resistência orgânica. Nos hospitais, asilos, orfanatos e prisões vírus, fungos, bactérias dizimavam todos. Curados só os que pudessem acrescentar alguma coisa ao mundo com seu conhecimento. Copiando a China, outras nações só permitiam um filho por casal. Depois mais exigências para se ter filho. O dinheiro no mundo passou a ser único e com controle de distribuição.

Caminhava-se para a felicidade, para a Paz.

Todos deveriam tomar água tratada e engarrafada que era oferecida de graça justificando que a água natural estava contaminada. O que o mundo não sabia era que havia elemento químico na água que agia no cérebro tornando-o suscetível a manipulação de pensamentos.

Poços foram construídos para aliviar a pressão na crosta terrestre, só que nesses lugares eram lançados os corpos para serem consumidos. Descontaminar- esta era a ordem. Antes eram descartados os imperfeitos e inúteis, depois os que não concordavam com a prática de seleção e redução da população, estes eram jogados vivos para servirem de exemplo.

Na arrumação da terra, os lugares que enfeavam a natureza e a harmonia arquitetônica tinham que ser destruídos.

Como enxame, aeronaves chegaram ao Rio de Janeiro com um tipo de arma estranho e sinistro, pairavam sobre as comunidades e as evaporavam.

Jhon Shang conversava com Mariane sobre os postes estranhos que foram colocados ao redor da comunidade da Babilônia onde morava. Perguntou para que servia e a resposta: Sinal para melhorar a comunicação. Quando viu de sua cobertura o tal veículo pairando seu celular tocou. A mensagem: “Bai bai Jhon Shang”. E tudo se evaporou.

Moral da historia

Devemos tomar cuidado com as palavras que dizemos. Elas tem poder, porque produzem uma ressonância. O dom da palavra, característica do homem é para comunicar e promover a aproximação. Usada inadequadamente ela destrói. Gritos, xingamentos, discussões, maldições, comentários chulos, maledicências, calunias são alguns dos poderes destrutivos que saem da boca. Por outro lado, aqueles que utilizam daquilo que de mal proferimos nos culpará de toda destruição provocada.

Resumindo: sempre somos responsáveis quer a gente queira ou não.

Pense: Que saia da vossa boca somente palavras para edificação. Paz!