PAIXÃO LALAIANA

Os casamentos têm sido, ao longo de todos os tempos algo que obedece à dinâmica das conveniências sociais. Quase sempre são feitos para assegurar o tão cobiçado poder econômico e político. É óbvio que também são realizados por motivos nobres. Há exemplos clássicos na história do Brasil, sobretudo no período da Monarquia. Esta busca de prestígio através do contrato matrimonial por conveniência ficou arraigada nos costumes da nossa gente. É muito difícil um ricaço se casar com uma pobretona e vice-versa.

Os poetas registram em versos e prosas alguns desses contrastes, que a gente não sabe se são reais ou ficções, principalmente na literatura de cordel. Partindo para a realidade, meu pai contava uma história, cujos personagens chegou a conhecer. Tratava-se de uma linda moça, criada na mais arraigada tradição pequenoaristocrática. O pai era um rico e grande fazendeiro. Na região havia um rapaz pobre, de ótima aparência, intérprete de canções românticas. Naquela época, cantores e instrumentistas tinham a pecha de boêmios, sedutores, irresponsáveis e vagabundos.

Para o azar do ricaço, sua filha apaixonou-se pelo cantor galã e seu violão eximiamente dedilhado. O pai ficou uma fera. Não aceitou a ideia do namoro, muito menos a de casamento. Os apaixonados resolveram fugir na calada da noite. De manhã o ricaço deu pela falta da filha e de um de seus melhores cavalos. Furioso, mobilizou seus capangas e partiram ao encalço dos pombinhos fugitivos.

O rapaz, por astúcia ou com o intuito de proporcionar maior conforto à sua amada, concedeu-lhe o comando da montaria e se instalou na garupa do alazão. Quando os jagunços perguntavam se alguém havia visto um rapaz moreno conduzindo uma jovem loura na garupa de seu cavalo, a resposta que obtinham era a de que, na verdade, o que tinham visto era uma moça loira que, de posse das rédeas, galopava com um rapaz moreno na garupa de soberbo corcel.

Foi o maior ti-ti-ti naquela época. Diziam que uma moça destemida havia roubado um rapaz, quebrando a lógica machista de séculos de alastramento.

Já pensou nos dias de hoje, Gisele Bundchen fugindo em seu BMW com o pobretão Lalá?! Um prato cheio pra mídia.

Sô Lalá
Enviado por Sô Lalá em 03/06/2011
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