O AMOR QUE NÃO SE FAZ.
O amor sempre será tema de quem escreve. De quem lê. De quem ama. Lendo, escrevendo ou simplesmente amando, o amor jamais se esgotará em suas nuances de emoção. Provavelmente vários Romeus e Julietas, Abelardos e Heloisas estejam se reinventando em cada casa, em casa apartamento, em cada praça, rua ou avenida. O componente básico do amor é o “se dar” sem limites, senão será outra coisa tipo paixão, carinho, carência. “Se dar no amor” nunca segue trilhas já traçadas, embora a gente possa se enganar imaginando que os passos que rondaram outros amores sirvam para os de então. Passos já dados não servem para que se chegue a novos caminhos que possam nos dimensionar em novos amores. A primeira grande dificuldade do amor é que nem sempre a gente se reconhece vivendo O NOSSO GRANDE AMOR. Temos a impressão de que o nosso grande amor seja sempre o que virá, posto que ao ser humano parece não ser facultado o sentimento real do amor na sua forma cristalina, livre dos estereótipos folhetinescos que nos acostumamos a presenciar.
Tenho a impressão de que o amor verdadeiro não acontece de acordo com o tipo físico e emocional que cada pessoa diz preferir. Traçar metas, tipos físicos, posição social e financeira, podem até ser encontradas num grande amor. Mas certamente não acontecerão enquanto meta individual. Naturalmente se busca ser feliz no amor e se aposta nele como síntese da extrema ventura do viver. Até pode ser assim, mas nunca nesta definição linear de acontecências.
A nossa civilização bem que poderia ser do amor. Este é quem talvez não se encontre acolhido nas diversas formações que nós estabelecemos. A nossa sociedade de consumo dá esse suporte de vulnerabilidade no afeto, conseguindo em diversas formas confundir os conceitos reais de amor, afeto, solidão, sofrimento, etc. O sofrimento de quem ama verdadeiramente não se pode sequer verbalizar. Dá-nos a impressão de que, como o próprio amor, ele existe para o SENTIR. O sentir do amor parece nos levar aos céus em vida. Os poucos bem aventurados dessa conquista certamente não saberão dizer o que sentem e até sofrem por isto. Descobrir que na vida há sentimentos que só podem ser sentidos é complexo. A vida moderna sempre nos pede provas de tudo, mas o verdadeiro amor não nos conduz a isto, embora nós sempre queiramos dizer dele a todo mundo em alto e bom som. É misterioso o sentimento que o amor provoca, senão nós humanos já o teríamos “embalado para presente” e seria vendido nas prateleiras dos grandes magazines, shoppings e supermercados.
Por isto vou parar por aqui. Quanto mais escrevo sobre o AMOR verdadeiro, mais me sinto incompetente para dessecar seus mistérios. Chego à conclusão de que os escritores todos se sentem desafiados, mas tentam. Da mesma forma que um médico que se diz ateu quando abre um paciente para cirurgia procura tocar DEUS com seu bisturi. Em vão ele não encontra Deus. Em vão nós, “escridores”, também não achamos o amor perdido em nossas palavras, escondido em nosso idioma, IMISCUÍDO em nossas frases e parágrafos atormentados de (DES)ilusão.