Bagunça

Buscou os óculos na bagunça sobre a escrivaninha, estava apinhado embaixo de alguns relatórios. Jogou sobre a papelada acumulada mais um pouco de papéis, relatórios, cartas, e-mails impressos, faxes, entre outras coisas. A bagunça ali era geral, mas por incrível que pareça ele não era um homem desorganizado, apenas ali naquele ambiente. No resto do apartamento pequeno de dois quartos, um que servia de escritório, predominava a total organização. Mas como todos bem sabem bagunça é um parasita que vai ocupando espaço e quando não encontra mais lugar vai se alojando em outros cantos até tomar conta de tudo.

Depois de um mês que estava no apartamento a única coisa realmente bagunçada era a escrivaninha de seu quarto-escritorio, ele não arrumava, não via motivo, sempre acabava bagunçado de novo. Mas como eu disse bagunça é coisa que anda depressa, e logo tomava conta de todo quarto-escritótio, e antes mesmo que ele percebesse já se encontrava no seu quarto, na sala, cozinha e banheiro, até na área de serviço tinha papéis e relatórios de todos os gêneros. Com o tempo não havia mais muito espaço na casa, e ele teve que doar o gato, vender o sofá e amocar a geladeira mais para a parede. Também perdia coisas, depois de dois meses no apartamento já havia perdido três óculos, o faqueiro, o forno micro-ondas, o aspirador de pó, já não encontrava o chuveiro, tendo que ir tomar banho na casa de uma das vizinhas, uma senhora muito gentil do apartamento 64.

Não podia jogar fora os papéis, eram coisas importantes, coisas das quais ele não podia viver sem. Então depois de mais um mês vendeu a cama e teve que colocar o colchão no corredor para poder dormir.

Achava estranho que as pessoas não viessem visitá-lo, até a sua mãe tinha deixado de ligar, desde a última vez que estivera ali e partiu sem se despedir.

Um dia dormia no seu corredor-quarto quando a porta do apartamento começou a fazer barulho. “TERREMOTO, TERREMOTO...” gritou sem pensar, e antes mesmo que ele pudesse contar até três a porta foi derrubada por uma avalanche de papel.

Ouviu sons, e entrou dentro do apartamento, agora vazio, para verificar. No meio da sala, comendo uma pizza velha de calabresa estavam sua mãe, três amigos e a sua namorada.

Amanda França
Enviado por Amanda França em 26/05/2011
Reeditado em 26/05/2011
Código do texto: T2995269
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.