Apareço, logo existo

Detesto pessoas metidas. Acredito que todos detestem, mas eu tenho asco especial por elas.

Sempre fui um garoto tímido, por isso não era estranho eu possuir uma relação de amor e ódio com tais pessoas: ao mesmo tempo que as odiava, queria ser como elas, adoradas.

Hoje, mais maduro, acredito que não há nada de mais em se afirmar. Isso faz bem á todos, isso ajuda a construir o nosso cárater e a nos relacionar com as pessoas. Alguém que se anule completamente para satisfazer determinada pessoa está se oprimindo. Por isso se auto-afirmar é preciso.

O problema é quando essa auto-afirmação é constante e desmedida. Tudo em excesso faz mal, como diria minha avó. A pessoa que se auto-afirma toda hora ou é muito insegura e faz isso para se proteger das outras pessoas ou foi educado na base do mimo e do inflar do ego. O que torna essa pessoa detestável é justamente essa monotonia: tudo tem que dizer respeito á ela e nada mais.

Hoje o problema aumenta, já que vivemos numa sociedade do espetáculo onde tudo precisa ser escancarado. Apostamos no individualismo, mas é um individualismo de vitrine, que se prende no que os outros vão pensar de mim. "Olha eu sou rebelde, eu sou marginal, eu sou isso, eu sou aquilo". É algo que se prende muito aos rótulos, que não consegue deixar de ser superficial. É a filosofia do "apareço, logo existo". E assim, mais um lote de pessoas egocêntricas surge a cada semana.

Devemos respeitar uns aos outros, tudo bem, mas esse tipo de pessoa tem de ter isso em mente também: se quer ser respeitado deve respeitar aos outros também. A justificativa do "me aceite pelo que sou" não pode ser usada como pretexto para ele continuar se propagandeando. Não estou com isso defendendo aqui uma política pública de perseguição aos rótulos ou uma caça ás bruxas. Estou dirigindo minha mensagem á você que no seu dia-a-dia vira e mexe esbarra em alguém do tipo. Não pretendo fazer dessa crônica um "manual do anti-esnobe". Se você prestar a atenção vai perceber que estou defendendo, assim como muita gente, uma noção muito antiga, tão antiga que já virou clichê, de que as aparências enganam. Não, não sou um saudosista. Realmente acredito que se apegar á estas máscaras da supervalorização do seu ego não ajuda a pessoa em questão e os demais que convivem com ela. A solução para isso? Auto-conhecimento, esclarecimento, etc. Os remédios podem ser muitos, mas devem partir da vontade do próprio cidadão. Nosso papel é apenas o de despertá-lo, de lembrá-lo que o centro do Sistema Solar não é a Terra nem tampouco ele. E tenho dito!