JECA SABIDO
Todos sabemos que a cultura e a educação no Brasil são ainda capengas. Imaginemos o índice de analfabetismo nos anos 30. Imaginemos, também, o interior de Minas, lá no mais longínquo rincão. Exatamente lá vivia meu tio Francisco. Para fazer o então chamado primário teve que deixar a casa paterna e ir morar numa cidade distante. Ao terminar, voltou à terrinha todo sabichão. Lia muito e, assim foi ampliando seu cabedal de conhecimentos. Era admirado como sujeito letrado e inteligente. Tornou-se, portanto, pessoa útil à comunidade nas mais diversas e situações.
Esmerava-se na dicção e falava obedecendo às regras do mais alto padrão culto da Língua. Muito zeloso e até indiscreto, corrigia matutos em suas pronúncias sui generis.
Houve uma época em que ele era comerciante numa vendinha à beira de uma movimentada estrada de região. Um belo dia um freguês determinado a comprar fósforos, pediu: “Aí tem fosqui?”. Meu tio foi à prateleira pegar a mercadoria solicitada, enquanto corrigia, falando pausadamente, com ares professorais: “Aqui está a sua caixa de fós-fo-ro!”.
O tal freguês sacou o 38, carga dupla, deu um murro no balcão e esbravejou: É fosqui e é fosqui, seu jeca sabido. Diga bem alto se não é!”. Meu tio, gaguejando disse:“É fo...fo...fosqui!”.
Daquele dia em diante tio Francisco nunca mais ousou corrigir ninguém.