AS ESTAÇÕES
Deus, quando fez o mundo, escolheu a nossa pequenina Terra, para ser o seu centro. Pelo menos, é esse o pensamento dos que crêem n’Ele, pela história que nos conta a Bíblia e o que nos falou Jesus, seu Filho, que, pelo seu sacrifício, redimiu-nos do pecado. Sendo ou não a Terra o centro do universo, Deus a fez com uma perfeição impressionante e admirável. Alguém afirmou que a Natureza é Deus; já eu entendo que ela é um instrumento que Deus utiliza para governar o nosso Planeta. A nossa Terra tem quatro ou cinco rotações, sendo as de Rotação, em torno de si, em exatas 24 horas, e a de Translação, em torno do Sol, percorrendo, essa órbita gigantesca - seguida pela Lua - em precisos 365 dias. São elas que regulam as quatro estações.
Estas, as estações, dividem-se, cada ano, em: Primavera, Verão, Outono e Inverno. Costuma-se dizer que a nossa Vida é dividida, também, em quatro fases. Primavera é a Mocidade, vibrante, idealista, sonhadora; Verão é a idade adulta, corajosa, dedicada ao trabalho e à produção; já o Outono prenuncia o Inverno, o homem sentindo diminuir o seu vigor; finalmente, o Inverno – ao qual se compararia a nossa velhice - é a estação do frio, a fase do recolhimento, do agasalho, propícios à reflexão.
Conta uma lenda que houve um tempo em que os Devas eram anjos que regiam a Terra, cada um representando uma estação. Certa vez, aconteceu uma discussão entre eles, sobre qual seria o mais importante. O Deva Primavera, todo vaidoso e cheio de si, afirmava: ”Sou a estação mais querida porque o meu tempo é todo colorido com festas, canções e flores”. De fato, esta estação que representa a nossa Mocidade é a mais bela do ano. Recebi de um amigo, há alguns dias, um e-mail “Spring is coming”, com belíssimas paisagens de várias regiões do mundo, um colorido de flores exuberante, de encher os olhos de admiração, de êxtase espiritual, por saber que a mão de Deus estava ali.
Já o Verão, meio raivoso com a jactância da Primavera, alegou que era ele que levava o povo à colheita dos frutos, das safras, aos passeios e ao divertimento. De fato, esse é o tempo que os adultos aproveitam para viajarem, conhecerem os vários países do mundo em busca de entretenimento.
Em outro e-mail recebido, o autor das bonitas legendas louva o Outono, sentindo-se muito feliz por tê-lo alcançado. “Olhar para o passado? Não. O que passou, passou, agora é desfrutar tudo de bom que a maturidade nos proporciona”. Bom, voltemos à fala do Devas Outono: ”Eu lhes dou o momento de fazer e avaliar tudo o que foi feito, jogar fora as folhas secas e as cargas inúteis para obter tempo para a sua consciência interior”. É isso mesmo, esse é o tempo de um retrospecto da vida, da reflexão e do amadurecimento.
Finalmente, conta a lenda, ao aproximar-se o Inverno, os outros Devas, tremendo, recuaram exclamando: você está gelaaaado! E o Inverno, então, disse: “Como vocês pensam que esses valores dos seus reinados seriam medidos e respeitados se eu não existisse? É o contraste entre a disciplina e o recolhimento que eu imponho e o rompante que a irmã Primavera traz, o que lhe dá valor. E é para guardar recursos para o meu reinado que todos se submetem ao duro trabalho forçado que o Verão lhes impôs para terem a colheita. Se não desse um tempo de recolhimento, ninguém jogaria fora após avaliar o que realmente precisa e seria bobagem o reinado do Outono.”
Moral da lenda: Diz, com sensatez, o narrador da fábula: “Cada coisa tem seu tempo e a vida é bela porque regularmente mudam as condições, fazendo a harmonia do todo”. Isso é uma verdade incontestável, uma realidade. Assim é a nossa vida. Eu, pessoalmente, entendo que os ciclos da nossa existência não obedecem rigorosamente aos períodos de cada estação.
Eles podem, assim entendo, ser mais curtos ou prolongarem-se por tempo indeterminado. A fase outonal pode ser menor ou demorar mais a chegar à velhice, ou seja, simbolicamente, ao Inverno. Assim como a entrada no Inverno pode antecipar-se ou delongar. Vários fatores podem influenciar essa mudança. Eu, por exemplo, mesmo já ultrapassando os oitenta e seis anos, embora o seja pela idade, e tenha consciência disso pelas minhas limitações, não me sinto espiritualmente um “velho”; mesmo não desfrutando de boa saúde, sei que estou lúcido, ainda me locomovo e resolvo os meus problemas – talvez não com a mesma disposição de antes – ainda ouso escrever alguns textos como este, embora para poucos leitores. Só a solidão é o que me dói. Mesmo assim, sei agradecer a Deus tantos privilégios que me tem concedido ao longo da minha jornada aqui na Terra.