História que minha avó não contava
Tarde de outono, gelada e silenciosa, ajoelhada ante a tumba do filho desgarrado, a anciã passa o domingo.
Céu muito muito azul, sol amarelento que aos poucos apaga seu fogo, deixando uma clima de frio e tristeza.
Uma vela que não ilumina, queima como a alma da idosa.
...seus olhos não choram porque não tem mais lágrimas...
Todas suas lágrimas regaram a terra do túmulo do filho mal fadado, motivo pela qual não nascem nem ervas: o sal dos prantos.
...humilde e mal cuidado cemitério, aroma de morte impregna seu ar...bando de pássaros em revoada...sino da igreja dobrando...e do coreto da pracinha do lugar, sons de violão, pandeiro, gaita, que falam de amores idos, acentuam o ar de tristeza...
As penumbras envolvem a casinha, cheiro forte de bolor...casinha feliz...a velhinha, mastiga nacos de pão adormecido doado por alguma boa alma. Uma coruja pousa e pia nos arredores.
...agonizam os raios do frio sol dourado...
A anciã, murmura uma canção opaca e fria. Surda melodia, que a inspirou Natura quando na tumba do saudoso filho.
...a tarde parecia moldurar-se...
O ar silenciou no povoado humilde, morreu a tarde, as aves partiram, e a anciã ouviu o sussurro da vida que lhe dizia que ela já era muito só.
...hora de abandonar o filho...
Beijou o túmulo...apagou a vela...e, derramou sobre a terra ainda úmida duas lágrimas de cera.
...deram ainda outras lágrimas aqueles olhos vermelhos de dor...
Fomos testemunhas Deus e eu!