Histórias que meu avô contava.
Sob o calor das folhagens da frondosa floresta em que anuncia a sua presença a grande voz do Rio Paraguay, com troncos abatidos na dura lida diária, vão passando os MENSÚ.
Pobres seres primitivos, não são bons nem são maus...vida miserável do MENSÚ semi-selvagem...
Ele sabe que é humano pois pode dominar as bestas da fazenda.
Quase todos paraguaios, são os únicos capazes de executar a lida sob os raios daquele sol, escoltados, vigiados por sisudos vigilantes que vão gritando suas ordens com a mão repousada no coldre de sua arma.
Vão abrindo caminho na densa mata que volta a tecer teimosos filamentos retorcidos como fios, aproximan-se os carros de bois onde vão os milenares troncos abatidos.
Zigzagueiam os facões, estalam chicotes sobre o dorso das mulas, viajam os troncos como bélicos arietes, então a selva, passo a passo, vai entregando sua muralha.
Os MENSÚ, dessa forma, após indizíveis fadigas aproximan-se de uma clareira na selva onde está o grande porto no caudaloso rio. A partir deste ponto, as toras continuam sua viagem arrastadas pelo Alto Paraguai.
Vão viajando com a ajuda de alavancas, esforços e gritos prolongados
...gritos roucos e tristes que ecoam dos barrancos...
Finalmente, alinhados no canal que desce, homem e tronco desfalecem na água turva e calma, que entre lençois de espumas os acolhe maternal.
...novamente os esforços...novamente grito rouco...
Rompe o silêncio da tarde o apito do descanso.
...entre gritos, faíscas e fumaça desceu o último tronco para o calmo remanso...
E na terra calcinada pelo diurno sol de fogo se deixam cair, dominados por uma só vontade: DORMIR!
Apalpam suas misérias, e algo soa como prece em seus lábios infantis que nem mesmo sabem pedir.
Mas, DEUS ouve suas preces com divina displicência e tomando entre suas mãos a aboboda de cristal, a grande aboboda daquele céu, derrama sobre a indigência dos MENSÚ uma insolente pedraria
da noite tropical!