O Sapo Cômodo
 
         Não sei se nascemos para sermos felizes, mas sei que nascemos para buscar a auto realização e isso só se consegue evoluindo espiritualmente. 

        Tenho lido por aqui que os textos alheios e os comentários são sempre fonte de inspiração para alguns de nós e hoje isso aconteceu comigo. Li um texto da Lenapena ( Mudanças trazem caminhos solitários) que me fez pensar que estou saindo de uma zona de conforto para entrar em uma zona de turbulência. E como sempre uma coisa puxa a outra lá fui eu pensar no sapo cômodo e na minha grande saída da zona de conforto que aconteceu quando meu pai morreu. Pressentindo a sua morte fui buscar ajuda terapêutica para ajudar-me a passar por aquele momento que se anunciava. E foi então que tomei contato com essa expressão – sapo cômodo.

Quem é o sapo cômodo? A teoria é ampla e não é muito agradável se sentir como um. Não sei se estou cientificamente correta ao falar sobre o assunto, escrevo sobre o que lembro e marcou a minha vida. A minha lembrança diz que o sapo cômodo é aquela pessoa que, por não se conhecer o suficiente, obedece a ordens externas ou internas sem questionamento, mesmo quando está infeliz. Na verdade, muitas vezes não percebe que está infeliz. Acha que não tem opção e vai vivendo a vida de maneira cômoda porque se acostuma com esse jeito de viver e pensar em mudanças a deixa agoniada.

 
Em minha vida já vivi muitas fases de comodismo e as ultrapassei para novamente cair nelas, que essa situação é inerente a maioria das pessoas: você vai vivendo até que não dá mais. Por isso posso dizer que já tive mudanças significativas e, das que me lembro, a maior ocorreu com a morte de meu pai quando eu tive que sair daquela situação de filha que não precisa se preocupar com nada para a de filha mais velha em condições de assumir responsabilidades não imaginadas. Com isso, com a ajuda dos mais novos, assumi uma Padaria e um pouco mais tarde uma pequena fazenda. Essa segunda parte não foi nada cômoda, um desafio que não considero ter vencido integralmente, porque eu detestava. Para fazer isso tive que deixar uma parte de minhas atividades como educadora, atividades extremamente desgastantes, mas nas quais eu me sentia verdadeiramente como uma princesa feliz. Tempos depois pude voltar às atividades ligadas a educação, mas não para a sala de aula. Fui ser Secretária de Educação e depois trabalhar com a Cultura, o que fiz até o mês passado. E lá vai o sapo cômodo tomar conta de mim outra vez.

Dessa vez, porém não fui eu que desejei realmente sair dessa situação – a saúde me pregou uma peça e tive que me afastar temporariamente. Voltei, mas a sensação de que não era aquilo mais que eu queria foi muito forte e em abril, saí. Não me arrependi, mas de repente percebi que estava entrando em um período de pré-depressão, imaginando que eu voltava a uma antiga posição da qual tinha me livrado – a de cuidar de uma Fábrica de Pães, agora entrando na terceira idade, decadente, necessitando ela mesma de sair da zona de conforto. Mas onde a coragem para iniciar um novo projeto, a essa altura da vida, como se tivesse a necessidade de provar alguma coisa a alguém ou a mim mesma?

Sofri um bocado nesses últimos dias e então perguntei a mim mesma: Se meu pai estivesse vivo eu teria medo de começar uma reforma?
 
Como a resposta foi um não, sonoro e redondo, recuperei a velha e corajosa Merô e vou começar independente de qualquer outra coisa uma nova etapa em minha vida – e vai ser assim, até o fim. Acomodando-me e desacomodando até a integração final.