O VESTIDO DA PRINCESA
A função do mindinho é topar com a quina. Pena que a minha sorte nunca dê com a quina dos bilhetes premiados. Nasci plebeu – você também, obviamente – e perdi aquela coragem que trazíamos até anteontem: rei bom é rei deposto!
Xuxa anunciou que será uma velhinha antipática e sem plástica nos olhos: passará o fim das aposentadorias vivendo no mato, entre os bichos, tentando neles encontrar aquilo que em nenhum ser humano lhe pareceu superior.
Pelé já se aposentou. Daí nasceu o Edson: um operário que ganhou na loteria. Roberto Carlos trocou a paisagem dos detalhes por palcos sem detalhes e repetidos.
Rainha, reis. Temos aos montes.
Acontece que eu quero ver é o sangue azul! Pois que, numa fila de banco, qual a posição de quem possui o sangue azul? – não se prenda ao passado, pessoa da plebe, não adianta você ler e concluir que o tipo de sangue azul não vai ao banco... A época do mensageiro já passou... Preste atenção: a do bobo da corte também! Não confunda, nem subestime a nossa capacidade em julgar-lhe! – Mereceria, ele, a fila especial? Afinal, pode um portador de sangue azul ser um simples doador de sangue? Não serão minorias sociais, aqueles de sangue azul? Cabe aí uma reflexão, mas, antes, a idiotice prossegue.
É isso aí, um reinado é sempre uma época de sonhos! Dane-se que a fome seja produto da escassez de brioches, importa é que um rei jamais perde a majestade:
– viu você a festa que é ter pertencido à Idade Média? Reparou na quase-seda pertinente que cobria o anti-véu da noiva? Pertencia ela, até o casório se dar, a qual contingente de fila no banco?
Mas, se a noiva é princesa, quem será o rei? Filha de qual sangue se diz? Se o pai da noiva que agora está princesa nunca foi rei de ninguém, as fantasias que ensinam às crianças carecem de remendo.
Ou, então, passaremos a vida atentos ao casamento real. E nos esqueceremos do essencial:
– qual era a cor do vestido da princesa mesmo?