UM AMOR, UMA SAUDADE, UMA PÉROLA NEGRA.
Um dia uma Pérola Negra se interpõe em meu caminho. Feio, mas bonito. Alegre, mas triste. Decidido, mas cheio de dúvidas. Nigérrimo, mas cheio de cores outras. Seu olhar perdera-se na nuvem escura que escondia perversões as mais diversas. Sua estatura magra se robustecia diante do seu próprio falar com alma. Essa Pérola me invade e me cala, no momento exato em que eu me resvalo de desconfiança.
Em nossa volta só o desconforto da dúvida existia. Em mim pela ineficiência do meu ser no recrutar indivíduos no afeto. Nele, pela pouca idade que geralmente conduz pouco acúmulo de vida experimental. Em nós pela dificuldade que dois seres têm de, no encontro se encantarem sem rótulos. Dentro de mim parecia eclodir felicidade por nada. Dentro dele, felicidade por tudo. Fora de nós incertezas rondavam nossos olhares atormentados de presentes, mas encolhidos pelas incertezas dos nossos futuros.
Os olhos abertos na escuridão da noite, parecia me afrontarem diante de mim que aparecia tão nu de certezas. Os olhos dele abertos, pareciam se fechar em contato com os meus lábios, talvez pela incitação precoce que o amor fresco deixa. Junto de nós, afora a escuridão tateante, claudicavam pequenos gestos de carinho ensaiados clandestinamente como se nós fôssemos hospedeiros do amor atemporal. Meu corpo junto do dele fazia sentir os batimentos cardíacos, como se adolescentes fôssemos nessa odisséia do dar sem receber ou do receber doando, mas sem imaginar prosseguimentos. Um beijo nos sufoca a alma e a voz nos cala por dentro, como se um zíper emocional nos paralisasse por dentro. Não havia, certamente, espaço nas pregas vocais para mais nada, exceto os gemidos que o legítimo beijo naturalmente nos proporciona.
O infinito das horas nos trai. Rapidamente nos recompomos do sonho que nos conduz a odisséia dos mais sábios gestos – aqueles que percorrem o corpo de duas pessoas sem que saibamos se isto é certo ou errado. Neste instante, certo ou errado se perdem em si mesmos e se buscam na relativa história dos encontros humanos. Encontros que se firmam no encanto de si mesmo pela natureza do confronto e do afeto. Encantos que com o raiar do dia se vão e não dizem sequer a Deus. Talvez porque Deus nem queira saber, como se esse departamento fosse nosso, por ser ímpar em sua pluralidade.
Mas a negritude notívaga se resvala em minha Pérola. Dela me resta o que nem sempre sobra do afeto indistinto do indecifrável destino. Afinal, destino decifrável não é destino. A magia dele está no mistério que conduz aos céus ou ao inferno. Quando o limbo se estabelece, então a gente sofre, sofre e busca compreender essa razão tão arrebatadora que dói; que dilacera e que machuca e que acaba com nossa pouca capacidade de contextualizar o mundo nessa hora. Na verdade a gente gostaria que o mundo parasse para o nosso amor passar. Mas ele não para. Nós não paramos nem o amor pára.
Mesmo assim, a gente vence essa tempestade quando descobre que o dia amanhece e que novas estrelas em novas noites virão. Pérolas? Talvez não. Não é vocação de Pérolas se inverterem em paixão. O destino delas é esse mesmo: chegam, gostam, sentem prazer e se vão rumo ao infinito que aos apaixonados acalenta. Coisas do amor para quem a lógica humana se fez órfã de pai e mãe...