Oi, tudo bem?
Tenho observado, nesses últimos dias, que todo mundo, ao se cumprimentar, faz uma pergunta bastante rotineira: Olá/Oi, tubo bem? Até aí realmente está tudo bem. Mas o interessante é que quase ninguém a responde. Ninguém está interessado em ouvir a resposta, mas isso já faz parte do cumprimento. Uma maneira de demonstrar para outrem que você está “preocupado” com seu bem-estar, mas todos nós sabemos que a verdade não é bem essa. Tornou-se de fato uma pergunta retórica, isto é, quando você pergunta, mas não se importa com a resposta. O importante é perguntar, e não responder. Por exemplo: Quando duas pessoas conhecidas caminham em direções opostas e ao se verem percebem que só terão tempo para uma frase. Sem hesitar, falam a mesma coisa: “Oi, tudo bom/bem?”. Daí pra frente, cada um segue seu caminho sem responder e ambos saem com a consciência tranquila de que saudaram um conhecido, seguindo o manual social.
Já vi casos de perguntas intermináveis ainda sim sem respostas, não com tanto formalismo, mas seguindo o mesmo padrão. Estes ocorrem mais quando duas pessoas não se vêem há muito tempo mesmo. Nem são tão amigos assim, mas tentam parecer cordiais. Algo como:
1º - Ô, rapaz, e aí?
2º - Fala, cara. Beleza?
1º - Tudo “certim”?
2º - “Comé” que vai?
1º - Belezinha mesmo?
Nessa parte crítica da conversa, um já lembrou pra qual time o outro torce e começa a tirar sarro porque perdeu a final do campeonato, há mais ou menos um mês e meio.
Há ainda os raros casos em que as pessoas respondem. Aí aumenta a mentira.
1º - Oi, tudo bem?
2º - Tudo bem e você?
1º - Também.
E o papo continua.
Mas a pessoa que falou esse “tudo bem” acabou de sair do emprego, o patrão não quis fazer acordo e ela tomou um prejuízo danado. Fez algumas "manobras" na declaração do Imposto de Renda e agora desconfia que vá cair na malha. Sem contar que os professores da escola em que seu filho estuda entraram em greve e não há previsão para retorno. Agora vai ter de aguentar um pestinha em casa que corre e pula tanto que parece que tem formigas no... bem, deixa pra lá. Já a que falou o “também” não está bem também. Problemas menores, mas ainda sim são problemas.
Por isso e por muito mais, fico com a ideia de que não é preciso as pessoas se cumprimentarem falsamente, pra deixar transparecer que a vida vai às mil maravilhas. É melhor ir direto ao ponto se você tem algo a falar com alguém. Evitemos iniciar um diálogo com uma mentira. Talvez você até pensa em responder um “não” quando está cheio de problemas e vê naquela situação uma ótima oportunidade pra desabafar, mas isso poderia estragar aquele papo que poderia ser agradável. Assim, responde positivamente, evitando um desgaste maior ou até um agravamento do problema. Como vocês podem ver, amigos, há muita coisa atrás de um simples “tudo bem”.